quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Meu amigo imaginário é real?

Você já sentiu aquela sensação de que tem algo bem atrás de você, e seu cérebro começa a criar, meio que no automático, sensações físicas e sons pra justificar isso?

Aquele calorzinho na nuca, o som leve de uma respiração. Tudo culmina numa sombra imensa, que parece envolver seus braços e pernas como uma camisa de força, deixando só uma reação instintiva: virar pra trás.

Bom, acho que venho sentindo isso a vida toda. Não sei dizer exatamente desde quando isso acontece, mas percebo em momentos em que estou completamente sozinho. Naqueles minutos rápidos em que ninguém, nenhum ser vivo, está me vendo, é quando essa presença aparece.

Nunca é algo maligno, não me faz girar de medo, mas sim de curiosidade. Aqueles olhos estranhos que sinto queimando na minha nuca, ou aqueles olhares inquisitivos por cima do meu ombro, só chamam minha atenção por um breve momento.

Com uma presença tão próxima que eu quase sinto ela, a única coisa a fazer é olhar. Mas, tão rápido quanto essas sensações aparecem, elas somem quando viro pra encarar essa sombra que tá sempre comigo.

Repetindo essa ação como se fosse meu filme favorito, sempre fico pensando: por quê? Por que essa sensação é tão forte se, no fim, só me faz olhar pra um espaço vazio?

Conversei com meus pais sobre algo assim, e eles lembraram que eu tinha uma espécie de amigo imaginário quando era criança. Nos meus primeiros anos, eles me pegavam falando sozinho – nada estranho pra uma criança, né? Mas, mesmo adulto, sei que falo comigo mesmo em situações em que o silêncio da solidão me assusta.

Talvez tenha mesmo algo ali, sabe? Ou a gente cresce e perde a capacidade de perceber, ou, como adultos, apenas encobrimos isso. Talvez eu não seja o único.

Sou cético, sempre fui, mas hoje algumas memórias voltaram com tudo.

Quando eu era adolescente, desci pra pegar um copo d’água no fim da tarde e, na correria pra voltar pro jogo que tava me prendendo, deixei a porta da cozinha aberta. Isso deixou nosso cachorro, o Indy, subir atrás de mim.

Com a cabeça totalmente focada no jogo, nem notei ele na porta até que ele latiu. O Indy era um cachorro quieto, nem ligava pros bichinhos que apareciam no quintal, mas o jeito que ele latiu, como se tivesse um intruso, me deixou meio incomodado.

Outra vez, minha irmã mais velha, a Jesse, entrou no meu quarto quando eu achava que ela tava na casa de uma amiga. Ela veio pegar uma escova que tinha esquecido no meu quarto, e eu levei um susto danado. Nunca vou esquecer a cara que ela fez.

Se o medo tivesse uma forma física, era exatamente a máscara que ela tava usando. Não sabia se ficava paralisada ou saía correndo do quarto, com o rosto pálido como um fantasma por um ou dois segundos, os olhos fixos em algo atrás de mim.

Mas, tão rápido quanto ficou apavorada, ela voltou ao normal, pegou a escova e soltou um “Te pego depois, cobra”, uma brincadeira de infância nossa.

Quando falei com ela sobre isso depois, ela parecia não lembrar de nada, nem um único detalhe daquele que parecia ter sido os trinta segundos mais assustadores da vida dela.

Talvez esse seja o jeito deles, causar uma amnésia temporária pra esconder a existência. Mas pra quê? Só pra observar?

O estopim pra esse desabafo aconteceu hoje à noite. Tivemos um apagão, mas nosso gerador tava segurando as pontas, quase morrendo. Depois de ir ao banheiro, eu tava andando pelo corredor, distraído com a lâmpada piscando no teto, e acabei chutando o dedão num espelho grande e chique que temos.

Sozinho em casa, não achei que precisava segurar os palavrões contra aquele objeto idiota. Com a dor explodindo no meu dedão e eu xingando o espelho, meus olhos pararam no reflexo por uma fração de segundo.

Sob a luz fraca e piscante daquela lâmpada, eu vi pela primeira vez. Como um sonho coberto por camadas de neblina, escondendo o quadro todo, consegui ver um pedaço da figura.

Logo atrás do meu ombro, uma silhueta preta e densa me observava com um rosto sem olhos. Sua forma ondulante, movendo-se pra imitar a minha perfeitamente.

No momento em que vi aquele vislumbre, a forma evaporou como uma memória há muito esquecida. Corri pro meu quarto e encostei as costas na parede, tentando fixar aquela imagem na cabeça, mas tá desvanecendo rápido.

Escrever isso tá pelo menos segurando a degradação, mantendo a visão um pouco mais viva, mas não sei se o que lembro é o quadro completo.

Aquele sentimento incômodo de estar sendo observado mudou agora. Parece que perceber a existência dele é uma via de mão dupla, e ele sabe que eu o vi.

Ele é mestre em se esconder, mas, pelo que vivi, parece estar ligado à minha percepção inconsciente. Se eu realmente acredito que tô sozinho e a presença dele é só um pensamento perdido na minha mente, então, por um instante, ele se torna real.

Não sei o que isso significa, por que eles estão aqui ou o que acontece agora. Se minha memória serve de base, já os vi ao longo da vida, mas, no fim, nunca me lembro.

Talvez amanhã eu abra esse site de novo e ache que essas palavras são só um delírio de cansaço, apagando minha experiência mais uma vez. Pelo menos, vou estar aqui pra me pegar no final do ciclo de novo.

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