domingo, 7 de setembro de 2025

O Que Não Deixa Dormir

Toda noite, o Martín acordava exatamente às 2h43 da manhã, com uma sensação nojenta na garganta, como se tivesse passado a noite gritando nos sonhos. O problema é que ele não lembrava de porra nenhuma de pesadelo. Não havia barulho nenhum na casa. Só aquele silêncio filha da puta, que parecia esconder algo muito pior.

A primeira vez que ele notou isso foi depois que se mudou. Um apartamentinho cagado num prédio velho pra caralho, com janelas enormes e uma vista direta pros telhados mofados dos prédios vizinhos. Ele até curtia o silêncio, ou pelo menos achava que curtia. Isso até começar a ouvir os passos.

Eram passos leves. Lentos. Não vinham do corredor, nem do teto, mas de dentro do apartamento, cacete, no sétimo andar! Martín verificou mil vezes. Não tinha ninguém. Não tinha nada. Ele fechou as persianas. Cobriu as janelas com lençóis. Forçou-se a dormir.

Mas os passos continuavam, porra.

Até que uma noite, já de saco cheio, ele resolveu ficar acordado. Olhou pro relógio: 2h42. Respirou fundo. O coração batendo como um tambor no peito. Às 2h43, os passos começaram. Dessa vez, sem pensar duas vezes, ele virou e abriu a cortina.

E lá estava.

Uma figura careca, com a pele quase transparente, magra pra caralho, tipo um cadáver seco. Olhava ele do outro lado do vidro. Os olhos completamente brancos. E aquele sorriso… meu Deus, aquele sorriso que parecia não acabar nunca.

Martín gritou. Cambaleou pra trás. Mas a criatura não se mexeu. Só ficou lá, encarando. Até que, bem devagar… levantou a mão e apontou pra dentro. Direto pro Martín.

Ele acendeu todas as luzes. Ligou pra polícia, desesperado. Quando eles chegaram, não tinha porra nenhuma. Nenhuma marca de arrombamento. Mas havia uma marca no vidro: cinco dedos compridos e imundos.

Desde então, a figura voltava toda noite.

Nunca fazia nada. Só ficava lá, olhando. Mas o Martín já não dormia mais. Não comia. Não saía. Só ficava sentado na cama, noite após noite, esperando.

Até que um dia ela parou de aparecer.

Só que agora, toda vez que o Martín pisca… ele vê a figura. Refletida nos espelhos. Na tela preta da TV. Até nos sonhos, porra. Sempre quieta. Sempre sorrindo.

Hoje, às 2h43 da manhã, o Martín não grita mais. Não corre. Só fica sentado na cama, como uma criança que levou bronca, esperando a hora em que a figura vai atravessar a janela.

E levá-lo com ela.

Porque ela não tá mais do lado de fora.

Ela tá dentro da casa.

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Escritor do gênero do Terror e Poeta, Autista de Suporte 2 e apaixonado por Pokémon