sábado, 1 de novembro de 2025

Minha Esposa Não Podia Ter Filhos. Mas no Dia em que Ela Morreu, Ela Deu à Luz..

Mia foi minha esposa por cinco anos. Eu nunca imaginei que encontraria o amor fazendo trilha, mas foi exatamente assim que aconteceu. Ainda consigo lembrar o momento: ela estava sentada num banco numa área de descanso, mexendo no cadarço puído das botas de caminhada já bem gastas. Eu me ofereci pra ajudar, e depois disso a gente continuou andando junto. Nem sei direito como as coisas rolaram depois, mas a gente se apaixonou, e três anos mais tarde nos casamos. Foi uma alegria pros dois, e até tivemos lua de mel. Eu nunca tinha me sentido tão feliz na vida.

Pelo menos, não até a gente decidir ter um filho. Foi aí que descobrimos que Mia não podia ter filhos. Os médicos diagnosticaram algum tipo de condição, ela era infértil, e seria impossível a gente ter um filho juntos. No começo, isso jogou uma sombra no nosso casamento, mas depois de mais três anos a gente concluiu que existia vida além de ter filhos. Decidimos simplesmente curtir a companhia um do outro, como sempre tínhamos feito.

Tudo finalmente voltou pro ritmo familiar que a gente tinha quando se conheceu. Até a primeira doença dela.

As coisas entre a gente tinham acabado de voltar ao normal, e tudo estava melhor do que em anos. A gente estava feliz e cheio de vida de novo. Aí Mia ficou doente. Não sei o que aconteceu com ela, mas ela ficava sempre fraca, cansada, sem energia. O humor dela virou monótono, sem graça. Era como se nuvens escuras tivessem se juntado em cima dela e não deixassem o sol passar.

A partir daí, era como se Mia não estivesse mais ali comigo de verdade. Ela foi ficando cada vez mais magra, e eu via cada vez menos consciência nos olhos dela. O corpo dela tinha ficado tão fraco que ela só andava com ajuda de bengala. Na maior parte do tempo, ela só ficava sentada ou deitada, como se a vida em si tivesse abandonado ela... ou como se a alma dela estivesse escapando devagar.

Ninguém conseguia nos dizer o que ela tinha. A gente foi em incontáveis médicos, passou por tratamentos sem fim, mas nada. Ou não encontravam nada, ou só chutavam o que poderia ser o problema. Mia mal falava comigo agora — não porque não conseguisse, mas como se não quisesse.

Eu até fui falar com os pais da Mia, torcendo pra que eles soubessem de algo, talvez ela tivesse tido problemas parecidos quando criança, ou quem sabe fosse alguma doença hereditária. Mas aí descobri que Mia tinha sido adotada. Os pais dela nunca contaram pra ninguém, nem pra ela. O acordo de adoção proibia explicitamente. Essa pista também foi um beco sem saída. Eu teria feito qualquer coisa pra melhorar ela, mas nada ajudava.

Por semanas eu cuidei dela, testando todo remédio, pomada e tratamento que os médicos sugeriam, mas nada funcionava. Na verdade, o estado da Mia só piorava. Ela virou tipo um esqueleto ambulante — o corpo inteiro reduzido a pele e osso. Eu tentava alimentar ela, até levei pra fazer soro na veia pra nutrir o corpo, mas era como se ela só emagrecesse mais. Ela mal conseguia arrastar os pés agora, e só dentro de casa; subir uns poucos degraus já a deixava exausta.

O que mais me preocupava era a queda de cabelo. Saía em tufos, descascando do couro cabeludo como se nunca tivesse crescido ali de verdade. Em poucos dias, o cabelo loiro lindo dela ficou marcado por placas carecas do tamanho da palma da mão.

Por mais que eu amasse a Mia, e por mais disposto que eu estivesse a cuidar dela pro resto da vida, eu estava começando a quebrar.

A gente ainda rodava de médico em médico. Devo ter ligado pra todos os cantos dos Estados Unidos, perguntando se alguém podia me dar uma dica, um tratamento, qualquer coisa, pra melhorar a Mia. A gente viajava de um lugar pro outro, e eu pagava — muitas vezes caro — por certos tratamentos. Mas nada dava resultado. Alguns tratamentos pareciam tortura pra Mia; outras vezes, não tinha nem o menor sinal de melhora. Eu estava completamente perdido sobre o que mais podia fazer.

O tempo passou assim até uma manhã em que eu acordei com Mia tossindo violentamente. Eu pulei da cama na hora, correndo pro lado dela. Eu temia o que podia ter dado errado de novo, e eu tinha razão de ter medo. Os dentes da Mia tinham começado a cair. Não todos de uma vez, mas um por um. Às vezes a gente acordava de manhã e encontrava um faltando; outras vezes ela perdia um durante o dia. Era uma visão horrível.

Nessa altura, o cabelo dela já tinha caído completamente. Comprei uma peruca pra ela pra que as pessoas não ficassem encarando se a gente saísse, e pra que ela se sentisse ainda bonita aos meus olhos. Mas na maior parte do tempo ela só ficava sentada ou em pé, sem graça, com a peruca escorregando pros olhos ou torta na cabeça. Ela estava careca agora, e quase sem dentes. O peso dela tinha caído pra uns trinta e poucos quilos, e os músculos tinham atrofiado tanto que ela mal conseguia se segurar em pé.

Ela parecia uma velhinha. Aos trinta e um anos, a minha Mia parecia uma bruxa encarquilhada de setenta. Mal dava pra reconhecer ela.

Um dia, porém, a doença da Mia deu outra virada. Feridas começaram a aparecer no corpo dela, de vários tipos, a maioria parecendo como se furúnculos tivessem estourado. Elas simplesmente surgiam do nada.

Foi aí que decidi que a gente ia tentar absolutamente tudo. Fomos em mais médicos, curandeiros, healers espirituais... Até levei um padre pra abençoar ela. Mas nada fazia diferença. O estado dela era terrível: feridas ulceradas cobriam ela da cabeça aos pés, ela mal andava, e até se mexer parecia sugar tudo que restava dela. Não tinha mais dentes, e todo o cabelo tinha ido embora.

Os médicos estavam de mãos atadas, ninguém conseguia me dizer o que era. Às vezes internavam ela por uns dias, mas nunca ajudava. Não tinha mudança.

Aí me disseram a coisa que eu mais temia: Mia não ia durar muito se as coisas continuassem assim. Mandaram eu passar o máximo de tempo possível com ela. Eu fiz tudo que pude, mas Mia estava além de salvação. O corpo dela estava sendo destruído.

E aí, numa manhã, chegou o momento que eu esperava, mas não do jeito que eu imaginava. Eu estava lá embaixo tomando café; Mia geralmente ficava na cama nessa hora. Um pouco depois, subi com comida pra ela, torcendo pra conseguir fazer ela comer algo. Tinha preparado um pratinho de legumes e batido no liquidificador pra virar um smoothie, achando que talvez ela conseguisse beber.

Mas quando abri a porta do quarto, o horror me recebeu. A cama estava encharcada de sangue. As pernas da Mia estavam cobertas dele, assim como o cobertor. Gritando, arranquei as cobertas dela, exigindo saber o que estava acontecendo agora.

O que eu não esperava era o bebezinho minúsculo deitado entre as pernas dela. Uma criança. Uma menininha. Mia tinha dado à luz uma bebê.

Não sei como processei tudo aquilo. Talvez nem tenha processado, talvez só tenha me convencido que sim. Mas a vida seguiu. Mia se foi. Ela sangrou até a morte ali na nossa cama. Fizeram autópsia, rodaram incontáveis testes e experimentos nela, ou Deus sabe o quê. Os médicos me disseram que ela não podia estar grávida. Não tinha um único sinal no corpo dela de que tinha carregado uma criança. E mesmo assim, o bebê estava perfeitamente saudável. Era como se Mia não tivesse dado à luz num estado horrível e agonizante.

Ninguém conseguia me explicar. Mas uma coisa era certa: essa criança era minha filha. Quando Mia e eu ainda planejávamos um filho, ela tinha dito que, se fosse menina, queria chamar de Elizabeth. Então, a partir daquele dia, ela era Elizabeth pra mim.

Criar uma criança foi brutalmente difícil. Sozinho, com o peso e o vazio que Mia deixou, acho que eu não teria conseguido sem ajuda profissional. Consultei um psicólogo; precisava falar com alguém sobre o que tinha acontecido com Mia. O começo foi incrivelmente duro, e os anos seguintes foram, se possível, ainda piores. Mas eu amava Elizabeth. Ela era nossa filha. E eu sabia que Mia ia querer que eu a criasse.

Eu nunca imaginei que criar um filho pudesse ser tão “fácil”. Elizabeth era o anjinho perfeito. Claro, eu tinha ajuda dos pais adotivos da Mia e da minha própria família. Mas Elizabeth era o tipo de criança que todo pai sonha. Dormia a noite toda, quase nunca chorava, só quando realmente tinha algo errado. Raramente ficava doente, comia tudo que eu dava, e birras eram completamente desconhecidas pra ela.

Os anos passaram. Eu não tinha muito tempo pra ficar remoendo o que aconteceu. Entre trabalho, casa e criar Elizabeth, meus dias eram cheios.

Quando Elizabeth fez oito anos, decidi arrumar um tempinho pra mim, ou melhor, pra minha vida amorosa. Comecei a namorar uma mulher chamada Linda. O filho dela era da turma da Elizabeth, e Linda também era mãe solteira. Ela se mostrou uma ótima companhia. Eu gostava dela.

Mas foi aí que as coisas começaram a mudar com Elizabeth. Naquelas poucas semanas em que eu via Linda, ela mal parecia ela mesma. Nos dias em que eu tinha encontros, ela fazia de tudo pra me impedir de sair ou pra me fazer ficar com ela em vez de ir com Linda. Continuou assim até que, um dia, ela cruzou a linha.

Uma noite, Linda e eu saímos, deixando Elizabeth e o filho da Linda com uma babá. Eles eram da mesma turma, pelo menos podiam passar o tempo brincando juntos. Mas Elizabeth não levou bem. Depois soube que ela passou a noite humilhando o filho da Linda, dizendo coisas horríveis sobre o que ia acontecer com ele e com a mãe dele.

O que acabou de vez com Linda, e fez Elizabeth não poder mais ficar na escola dela, foi um ato de violência brutal. Naquela noite, enquanto Linda e eu estávamos num restaurante chique, a babá me ligou, desesperada e gritando. Elizabeth tinha mutilado o filho da Linda. Ainda não sei exatamente como aconteceu, mas ela cortou três dedos dele com uma faca de cozinha.

Linda nunca mais quis me ver. E eu fiquei furioso com Elizabeth.

A partir daí, levei Elizabeth pra uma psicóloga infantil. Muita coisa foi diagnosticada. A especialista disse que o comportamento extremo da Elizabeth provavelmente vinha da ausência da mãe, e porque ela queria me ter só pra ela. Digamos que, a partir daí, tanto a psicóloga quanto eu trabalhamos pra ajudar Elizabeth a virar uma menininha comum. Mudei ela de escola, onde ninguém sabia do passado dela. E desisti de procurar um novo relacionamento.

Elizabeth sempre agia de forma estranha sempre que eu mencionava alguém que tinha conhecido ou estava conhecendo. Era como se ela não fosse ela mesma nesses momentos. Então deixei pra lá. Nos anos seguintes, éramos só nós dois de novo.

Quando Elizabeth fez doze anos, as coisas começaram a ficar ainda mais estranhas. A semelhança entre ela e Mia virou quase assustadora. Eu sei — ela era filha dela, afinal. Mas não era só a aparência. A personalidade tinha ficado quase idêntica. Ela ria do mesmo jeito, corava do mesmo jeito quando eu provocava. Usava o cabelo do jeito que Mia usava, e a cor parecia ficar cada vez mais loira.

Num dia de final de verão, tudo ficou claro. Estávamos comemorando o aniversário de treze anos da Elizabeth. Organizei uma festinha pequena pra ela e as amigas. Assei hambúrgueres pra elas no quintal, e elas nadaram na piscina. Depois da festa, eu estava na cozinha lavando louça quando Elizabeth veio por trás e me abraçou. Aí ela disse que ia tomar banho.

Quando ela se virou, juntando o cabelo castanho-claro na mão, eu vi a nuca dela. Tinha uma marca ali, tipo uma cicatriz antiga de cirurgia. Elizabeth nunca tinha operado nada. Mas Mia tinha. Ela me contou que ganhou numa acidente de bicicleta aos treze anos, um tombo que quase a deixou paralisada depois de cair no pescoço.

Como uma cicatriz idêntica estava na nuca da Elizabeth? Dias atrás não tinha nada ali. Como tinha aparecido?

Meus pensamentos dispararam. Fiquei paralisado na cozinha enquanto Elizabeth se afastava devagar. A ficha caiu como gelo: Elizabeth não era minha filha. E talvez... nem da Mia.

“Mia!”, gritei atrás dela quando ela chegou na escada. “O que é tudo isso, afinal esses anos?”

Elizabeth parou devagar. Não virou pra mim. Só ficou ali, uma mão no corrimão, um pé já no primeiro degrau.

“Não me chama assim, Jack”, disse ela, com tom de repreensão. “Eu sou Elizabeth agora.”

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