Eu tinha 17 anos quando tive meu primeiro encontro com algo que não parecia certo.
Eu estava esperando meu ônibus chegar. Não me lembro tão claramente como costumava lembrar—minha mente não é mais o que era—mas nunca poderia esquecer aquela rota de ônibus. Era a única que ia do meu trabalho em um McDonald’s decadente (que, tragicamente, era a melhor opção de fast food num raio de 80 km) até minha casa. Rota 75.
Não era incomum me encontrar um pouco afastado do ponto ou fingindo olhar para o celular. Na época, parecia um suicídio social se descobrissem que eu tinha 17 anos e ainda não tinha carteira de motorista. Hoje sei que não era grande coisa, mas quando se tem essa idade, tudo parece o fim do mundo.
Era um dia ensolarado para o noroeste do Pacífico, lembro disso. O ar-condicionado do McDonald’s estava quebrado, e o cheiro de fritura barata misturado ao suor tinha se transformado em algo próximo a uma toxina—um odor que grudava no nariz por dias. O tipo de clima que faria alguém da Costa Leste colocar um casaco, mas por aqui, as pessoas já estavam tirando as regatas do armário.
Eu estava sentado no banco, de cabeça baixa, esperando, quando a vi pela primeira vez.
Ela estava do outro lado da rua. Pele pálida e lisa como porcelana. Pelo ângulo da luz, parecia que seus olhos nem estavam ali—apenas buracos. Eu não estava usando meus óculos, então, a princípio, achei que fosse um truque do sol.
Não era.
Demorei quase dois minutos inteiros para perceber que estava encarando. E deixe-me ser claro: não sou o tipo de cara que encara mulheres, especialmente desconhecidas. Nunca tive esse tipo de arrogância. Mas isso… isso era diferente.
Não era admiração. Era como… transe.
Havia algo profundamente errado na beleza dela. Não no sentido casual. Era uma beleza de filme de terror. O tipo de beleza que se vê no rosto de uma mulher logo após sua morte. Como uma pintura tecnicamente perfeita, mas profundamente, profundamente errada.
Olhar para o rosto dela não parecia olhar para uma pessoa. Era como encarar um buraco negro na forma de uma mulher. Quanto mais olhava, menos conseguia pensar. Meu cérebro simplesmente desligava.
E tenho vergonha de admitir, mas até hoje—depois de tudo que ela fez, depois de tudo que ela tirou da minha cidade—pensar no rosto dela ainda faz meu estômago revirar. Ainda me faz perder um pouco de mim mesmo.
Acho que estava prestes a cruzar algum limite mental quando meu ônibus apareceu e parou diante de mim. As portas se abriram, e vi o Velho Dave sentado no banco do motorista. O cara trabalhava naquela rota desde antes de eu nascer.
Qualquer pessoa pareceria estranha depois de ver aquela mulher. Mas Dave… Dave parecia errado. Como um desenho de uma criança de 4 anos tentando imitar a Mona Lisa. Como uma imitação do que uma pessoa poderia ser.
Mas, para ser justo, Dave sempre parecia um pouco assim.
— Vai entrar ou o quê, garoto? — ele perguntou.
O cheiro de rum velho saía do seu hálito.
Olhei por cima dele, através da janela do ônibus, desesperado para dar mais uma última olhada nela. Aquele rosto terrível, lindo. Como observar um acidente de carro. Eu sabia que não deveria querer vê-la de novo—mas parte de mim queria.
Ela havia desaparecido.
Não sabia como me sentia. Decepcionado? Aliviado?
Antes que pudesse decidir, Dave resmungou:
— Você tá chapado? Porque, se estiver, não deixo um drogado entrar no meu ônibus.
Será que eu realmente estava tão obcecado por aquela mulher a ponto de parecer estranho? Achei que fosse só o jeito do Dave, então subi no ônibus.
Agora, estou te contando isso para que saiba que o que aconteceu não foi culpa minha. Não foi culpa de ninguém. Nós éramos apenas crianças.
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