A princípio, descartei como uma ilusão da minha imaginação, um truque criado pela escuridão e pela minha mente exausta. Foquei na tela, a batalha se intensificando enquanto eu atacava e desviava. Mas lá estava de novo — toc, toc, toc. Fiz uma pausa, meu coração batendo forte contra o peito, parecendo estranhamente fora de lugar no meu próprio santuário.
Respirando fundo, abaixei o volume e escutei. Silêncio. Senti-me tolo por sequer considerar que alguém pudesse estar à minha porta. Vislumbrei meu reflexo na tela de vidro — pálido, com olhos arregalados. "Se controla, cara", murmurei para mim mesmo. A luta continuou, mas o tamborilar voltou, agora um pouco mais insistente. Olhei para o relógio na parede. Já passava da meia-noite. Quem estaria batendo a essa hora?
A curiosidade formigava na minha pele enquanto me levantava, abandonando meu fervor pelo jogo. Caminhei até a porta, cada passo pesado no silêncio do apartamento. Cheguei ao olho mágico e espiei. Nada. Meu coração afundou um pouco. Considerei ignorar; talvez fosse apenas meu vizinho voltando de um turno noturno, mas a dúvida me corroía. E se não fosse? E se fosse algo pior?
Engolindo o medo, abri a porta apenas uma fresta. O corredor mal iluminado estava vazio, sombras se acumulando nos cantos, o cheiro de ar viciado invadindo meus pulmões. Eu podia ouvir meu coração ecoando no silêncio. Talvez fosse hora de encerrar a noite, pensei, voltando ao conforto da minha cadeira de jogos. Ao mergulhar novamente no mundo virtual, tentei afastar a sensação de inquietação que se instalava no meu estômago.
Em algum canto da minha mente, um pensamento se agitou. Eu havia deixado meu celular na mesa. Peguei-o, planejando checar as redes sociais, talvez ver se alguém mais estava jogando até tarde. Mas, em vez disso, uma notificação apareceu: "NOTÍCIA URGENTE: Homem foragido suspeito de esquartejar vítimas na cidade. Fique em casa e tranque suas portas."
Um frio gelado percorreu meu corpo, e uma sensação de pavor se desenrolou no meu estômago. Meu pulso acelerou enquanto imagens de sangue e caos passavam pela minha mente. Não conseguia afastar a sensação de que, quem quer que fosse, poderia estar mais perto do que eu imaginava. Será que aquelas batidas persistentes eram um aviso?
Levantei-me de um salto e verifiquei as trancas da porta, conferindo cada uma três vezes, com as mãos trêmulas. Nesse momento, o tamborilar voltou, agora soando como batidas frenéticas. "Olá?!" gritei, minha voz vacilante. O silêncio seguiu, mas meus nervos pareciam eletrificados. Quase deixei o celular cair quando ouvi uma voz — um sussurro baixo e rouco cortando o ar: "Me deixa entrar..."
Congelei. O pânico tomou conta enquanto eu juntava os pedaços de lógica. Nenhuma notícia havia indicado que o homem estava por perto, mas minha intuição gritava o contrário. Meu apartamento parecia uma armadilha, e de repente eu me sentia sufocado pelas quatro paredes. Peguei meu celular, a tela de descanso iluminando meu rosto. Disquei o 911, meu coração batendo nos ouvidos.
Antes que eu pudesse apertar "ligar", a energia caiu. O quarto mergulhou na escuridão, a luz azul do meu celular sendo a única coisa a combatê-la. Meu coração disparou em um ritmo frenético quando ouvi — batidas lentas e deliberadas, acompanhadas por um som de arrastar, como se algo pesado estivesse sendo puxado pelo chão. Um grito tentou escapar dos meus lábios enquanto meus sentidos entravam em colapso, mas tudo o que saiu foi um gemido estrangulado.
Então, de repente, as batidas pararam. Prendi a respiração, encarando a porta com olhos arregalados. Será que tinha ido embora? Mas, no lugar do silêncio, ouvi uma respiração pesada, bem do lado de fora da minha porta, ecoando. Virei-me para a janela, a luz do poste lá embaixo piscando; ouvia sirenes distantes, mas estava paralisado demais para me mover.
Nesse momento, a porta tremeu com um baque sólido. Minha mente disparou, avaliando opções. Eu precisava me defender, sobreviver. Abri a gaveta ao lado da minha cadeira e peguei um taco de beisebol, sentindo o metal frio sob minha mão. Cada som estrondoso contra a porta parecia o pulsar do mundo vindo me buscar.
"Me deixa entrar!", a voz chamou novamente, agora com um tom de urgência, a desesperação marcando cada sílaba. Apertei o taco com força e dei um passo atrás. O próximo golpe foi explosivo, a porta de madeira se estilhaçando sob a força, pedaços voando enquanto a moldura rachava em torno das dobradiças antigas. Cerrei os dentes e me preparei para o que estava por vir.
Com um último impulso estridente, a porta se abriu, e uma figura emergiu, envolta em escuridão, roupas manchadas de sangue grudadas a um corpo esguio. Balancei o taco, acertando a figura diretamente no peito. Ela cambaleou para trás, mas não foi o suficiente.
O que veio a seguir foi um pesadelo desdobrando-se — uma enxurrada sangrenta de violência, enquanto a realidade se transformava em horror, e o mundo que eu amava desmoronava ao meu redor. A última coisa de que me lembro foi o brilho insano em seus olhos, e tudo ficou preto.
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