Mudei-me para a velha casa na Rua dos Olmos porque o aluguel era barato e eu precisava de tempo para terminar meu romance. O prédio tinha dois andares, com a tinta descascando, como se o tempo o tivesse esquecido. O proprietário me entregou as chaves e avisou que o lugar tinha suas peculiaridades. Com a voz fraca, ele disse que as paredes às vezes falavam. Eu ri e prometi manter a mente aberta. Tinha contas a pagar e prazos a cumprir.
Na primeira noite, arrumei minha máquina de escrever na escrivaninha de madeira marcada, no canto do quarto. O relógio tiquetaqueava enquanto eu digitava, cada tecla batendo no papel como um pulsar. Parei à meia-noite e notei uma corrente de ar atravessando o quarto. A janela estava fechada. Verifiquei a tranca duas vezes. Dando de ombros, voltei ao trabalho. Às duas da manhã, acordei com o mais leve murmúrio do meu nome ecoando pelo corredor. Sentei-me, o suor escorrendo pela testa. Meu nome novamente, carregado por um sussurro invisível. O murmúrio desvaneceu antes que eu pudesse chamar. Culpei minha imaginação e voltei a dormir.
Na terceira noite, ouvi passos no corredor do lado de fora da minha porta. Eram passos lentos e deliberados, que paravam logo além da moldura. Meu coração disparou enquanto eu encostava o ouvido na madeira. Os passos recuaram e sumiram. Quando acendi a luz, não havia nada lá. Apenas o longo corredor se estendendo na escuridão.
Na quinta noite, encontrei uma porta escondida atrás de uma pilha de caixotes velhos no porão. Era pintada de um branco opaco, como ossos antigos, com dobradiças enferrujadas e um cadeado quebrado há muito tempo. Minha lanterna cortou a penumbra e revelou um espaço estreito, forrado com jornais frágeis de quase um século atrás. As manchetes falavam de crianças que desapareceram sem deixar rastros naquele bairro, buscas intensas e noites de gritos na escuridão. Estremeci e forcei a porta a fechar. O ar pareceu mais pesado no momento em que voltei para a sala principal do porão.
Naquela noite, tentei focar na escrita, mas minha mente voltava ao espaço escondido. Imaginava mãos pálidas arranhando a madeira, sussurrando promessas de pavor. Anotei furiosamente no meu caderno, convencendo-me de que estava criando material para meu próximo romance de terror. Contei aos amigos sobre rangidos e murmúrios em um grupo de bate-papo, e eles disseram que eu estava louco. Que precisava dormir, não de histórias de fantasmas.
Na sétima noite, acordei exatamente às duas e vinte e três. As paredes do quarto vibravam com um zumbido baixo, como se a casa respirasse. Então, os sussurros começaram a girar ao meu redor. Falavam em rodadas, camadas de vozes que se misturavam até eu não distinguir onde uma terminava e outra começava. “Volte”, disse uma voz. “Você não pode ficar”, veio outra. Às vezes, parecia uma criança implorando; outras, algo mais antigo, me alertando. Sentei-me, a cabeça girando. Meu caderno caiu no chão enquanto eu tapava os ouvidos. Os sussurros diminuíram após o que pareceram horas.
No café da manhã, pesquisei notícias antigas online, procurando qualquer coisa sobre desaparecimentos na Rua dos Olmos. Encontrei apenas menções breves em arquivos empoeirados e um único artigo de cinquenta anos atrás sobre uma garotinha que sumiu e nunca foi encontrada. A legenda sob sua foto dizia apenas seu nome e idade: Katheryne, seis anos. Seus olhos na fotografia pareciam me seguir pela tela. Fechei o laptop.
Naquela tarde, explorei o bairro. As casas estavam abandonadas ou com tábuas nas janelas, seus vidros como olhos escuros me encarando. Vizinhos atravessavam a rua quando eu me aproximava, olhando para a casa antiga com desconfiança. Ninguém ofereceu informações, mas um cão vira-lata me seguiu até eu sair e então correu de volta para a Rua dos Olmos.
Naquela noite, deixei as janelas abertas e levei meu cobertor para o quintal, esperando que o ar fresco afastasse o medo. O quintal era pequeno, tomado por ervas daninhas e grama retorcida. Deitei-me e olhei para o céu até adormecer. No meio da noite, acordei com pegadas molhadas no meu peito. Minha camisa estava encharcada e fria. Sentei-me e vi marcas de patas lamacentas levando ao vidro escuro da janela. Minha lanterna revelou apenas grama e terra. As pegadas terminavam no limiar, como se alguma criatura tivesse passado e desaparecido.
Fechei e tranquei as janelas. Sentei-me na sala por horas, com as luzes acesas e a televisão chiando estática. Recusei-me a subir até o amanhecer, e ainda assim o sussurro veio pela fresta sob a porta, como alguém exalando meu nome.
Na décima noite, não aguentei mais. Voltei ao porão. Minha lanterna iluminou os caixotes e revelou a porta escondida novamente. Encostei o ombro nela e empurrei até que se abriu. O espaço era estreito, mal dava para deitar. Minha luz revelou os jornais amarelados e, então, algo mais. Uma pegada marcada no chão de terra, pequena demais para o meu tamanho, mas profunda demais para ser de uma criança. Lama grudava nas bordas. Senti-me atraído, como se devesse rastejar lá dentro e enfrentar o que esperava.
Não entrei. Bati a porta, as mãos tremendo, e corri escada acima, ignorando tudo mais. No quarto, peguei uma mala, jogando roupas dentro sem cuidado. Enfiei o laptop e o caderno por cima. Apaguei as luzes e corri para o ar frio da noite.
Nunca olhei para trás. Dirigi pelas ruas vazias até o amanhecer tingir o horizonte. No retrovisor, pensei ter visto uma pequena figura na janela do sótão, observando-me partir. Pisquei, e ela sumiu. Os pelos dos meus braços arrepiaram.
Aluguei um pequeno apartamento em outra parte da cidade. Sem ruídos estranhos à noite, sem correntes de ar ou portas escondidas. Mas, às vezes, nos meus sonhos, ouço um sussurro chamando meu nome. Quando acordo no silêncio, lembro da Rua dos Olmos e da garota chamada Katheryne. Lembro da casa que respirava e das paredes que falavam de coisas terríveis. E prometo a mim mesmo que nunca mais voltarei àquelas paredes sussurrantes.
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