quinta-feira, 5 de junho de 2025

Vença o Calor

Morando no sudoeste, nunca dei muita bola para temperaturas de três dígitos durante os meses de verão. É quente, pegajoso e irritante, mas poderia ser pior. Pelo menos não é úmido.

Meus pais têm uma situação financeira boa o suficiente para terem uma piscina no quintal. Não é a coisa mais extravagante do mundo, mas é refrescante e de graça. Passei muitos dias de verão, mesmo depois de me mudar, naquela piscina. Meus pais trabalhavam em empregos de escritório monótonos que os mantinham dentro de casa durante o verão, então, na maioria dos dias, eu tinha a piscina só para mim. Eu tinha uma chave para entrar, então dirigia a curta distância do meu apartamento até a casa da minha infância para nadar.

As noites de verão eram um pouco diferentes. Eu passava a maior parte delas encolhido no sofá, jogando videogame ou assistindo TV. Era um verdadeiro caseiro.

No início de junho, já estava começando a ficar entediado com minhas noites. Tive que parar de ir à piscina dos meus pais por um tempo devido a uma "atividade sísmica estranha" que levou a cidade a postar no Facebook que qualquer porão ou estrutura subterrânea seria considerada perigosa até que a atividade cessasse. Passei a gastar todos os meus dias como passava as noites — sozinho no meu apartamento. Queria mudar um pouco as coisas, nem que fosse por uma noite. Foi com esse pensamento que comecei a rolar o feed do Instagram sem rumo. Era o de sempre: reels que os criadores nunca esqueceriam, posts me lembrando, como gay, sobre o Mês do Orgulho, e por aí vai. Acho que foi entre a marca de vinte minutos e seis horas que me deparei com um anúncio.

Vença o Calor! Piscina 24 Horas Agora Aberta em [REDIGIDO]

Isso despertou meu interesse. Eu poderia fazer à noite o que fazia durante o dia? Demais!

Quando escureceu de verdade, por volta das 21h30, coloquei um short de banho e uma camisa velha com estampa tropical que estava jogada por aí e fui para o endereço do anúncio. Esperava que não estivesse muito lotado. Me considero razoavelmente sociável, mas, no fundo, sou introvertido.

Cheguei lá por volta das 23h. Acabei parando para comer algo e dei uma volta de carro para garantir que não estaria muito cheio quando chegasse. Embora pudesse ser meio assustador às vezes, eu gostava de dirigir pela minha cidadezinha. Tudo lá fora é um deserto puro e árido do Novo México, mas acho isso bem bonito.

Quando cheguei à piscina, saí do carro meio sem jeito e observei o ambiente. Parecia que alguém tinha recortado a piscina de um motel quente da Califórnia dos anos 60 e colocado em 2025. Havia apenas um pequeno prédio que presumi ser um escritório ou lanchonete, com um letreiro neon brilhante que dizia "Piscina 24 Horas". Foi só nesse momento que percebi que era estranho a piscina não ter um nome de verdade. Não deixei isso me incomodar muito enquanto abria o portão, que mal chegava à altura da minha cintura. A cerca era quase perturbadoramente baixa.

Encontrei uma cadeira vazia e coloquei minha bolsa ali. Não havia taxa para entrar. Qualquer um podia simplesmente entrar, o que tornava tudo um pouco mais inquietante.

Havia uma mulher de uns trinta anos com seu filho adolescente, um salva-vidas que parecia um pouco infeliz e um cara de meia-idade com cara de desajeitado. Eu me destacava como um estranho, sendo o único fora da água. Até a cadeira do salva-vidas estava parcialmente submersa.

Por algum motivo, meu instinto dizia para não entrar na água. As luzes que mudavam de cor eram atraentes, claro, mas algo me dizia que eu realmente não queria entrar.

Então, fiquei sentado ali, meio sem graça.

Nos próximos trinta minutos, as pessoas começaram a chegar. Todo tipo de gente. À medida que o número de pessoas aumentava, minha sensação estranha sobre o lugar também crescia. Ninguém falava uma palavra. Todos apenas entravam na piscina e nadavam, como se estivessem hipnotizados pelas luzes. A essa altura, eu só ficava para observar as pessoas.

Conforme a meia-noite se aproximava, o salva-vidas começou a olhar o relógio com mais frequência. Por volta das 23h50, ela finalmente olhou para mim.

"Por que não entra, cara? A água tá boa!" ela perguntou.

Inventei uma desculpa rápido. "Sabe, essa coisa de atividade sísmica que tão falando por aí. Acho melhor prevenir que remediar. Tô só aqui pra observar as pessoas."

"Ahh, isso é bobagem. Entra aí!" ela respondeu.

"Tô de boa mesmo—"

"Vem, Johnny! A água tá bem quentinha!"

Eu parei. Nunca tinha visto essa garota na vida, então como ela sabia meu nome? "Como raios você sabe quem eu—"

"Johnny, vaaaai! Vem nadar com a gente!" ela insistiu. "Você não viveu de verdade até entrar."

Havia algo quase programado nos pedidos dela. Como um daqueles ursos de pelúcia que fala quando você aperta a pata.

Decidi que era hora de ir embora. "É, não, tô fora," disse enquanto me levantava e pegava minha bolsa. Ela agora só repetia "Johnny, vem!" como o refrão de uma música. Eu apenas sorri educadamente enquanto abria o portão e entrava no carro.

Senti o chão tremer um pouco enquanto começava a dar ré. Não era como se o carro estivesse passando por cascalho solto, mas como se o chão estivesse tendo um surto.

Saí do estacionamento e comecei a dirigir de volta para casa. O chão tremia cada vez mais forte. Olhei pelo retrovisor enquanto dirigia.

Com um rugido vindo do chão, vi algo gigante, como uma serpente ou minhoca... algo emergir do solo ao redor da piscina. Só consegui ver uma parte, mas a cabeça subiu provavelmente uns trinta metros no ar enquanto engolia a piscina e todos que estavam nela de uma vez. Depois, recuou para o buraco que sua aparição criou, e tudo sumiu. Sem piscina, sem prédio atrás da piscina, nem mesmo o estacionamento. Todos dentro daquela cerca e seus carros simplesmente desapareceram.

Não quis esperar para ver se aquilo sairia de baixo da estrada e me engoliria também. Acelerei até chegar ao meu prédio. Nunca fui tão grato pelo fato de a cidade ser pequena o suficiente para não ter muitos policiais patrulhando à noite.

Corri para o meu apartamento, rindo e chorando com o terror e a absurdidade da minha noite. Arranquei violentamente o short de banho e a camisa e corri direto para a cama assim que entrei.

Sei que outras pessoas têm dificuldade para dormir depois de experiências traumáticas, mas não foi o meu caso, não dessa vez. Dormi como se estivesse em coma.

Acordei como em qualquer outra manhã de verão. Meu alarme tocou, e vi as mensagens da minha mãe perguntando se eu tinha sentido o terremoto na noite anterior. Ainda não respondi.

Fui para a sala, com o conteúdo da minha bolsa espalhado perto da porta e as roupas da noite anterior jogadas pelo caminho até meu quarto. Nem me preocupei em colocar uma cueca, apenas sentei no sofá e olhei para o celular. Com dedos trêmulos, pesquisei as últimas notícias no meu telefone.

"Treze Pessoas Desaparecem em [REDIGIDO], NM Após Terremoto"

Essa foi a confirmação final para mim. Balancei a cabeça. Fiquei triste por aquelas pessoas, claro, mas estava quase eufórico por não serem quatorze. Por meu nome e foto não estarem no site do canal de notícias ao lado dos que foram devorados.

Preparei um banho para mim, embora tenha precisado me convencer a entrar depois da noite anterior. Felizmente, não havia nenhuma minhoca gigante para me engolir inteiro. Fiquei lá por um bom tempo, apenas processando tudo.

Agora que confirmei para mim mesmo que tudo foi real, me pergunto por que sobrevivi. Por que não entrei em transe como os outros? Acho que nunca saberei, e algo me diz que não vai demorar muito para eu parar de me importar com o motivo de quaisquer técnicas de atração de presas não terem funcionado comigo. Estou apenas feliz por ainda estar aqui.

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