quarta-feira, 4 de junho de 2025

Homem de Capuz

Você já foi influenciado por uma peça de roupa? Não estou falando de confiança pela aparência. Já sentiu que um objeto, uma verdade ou apenas uma camiseta favorita lhe deu mais controle do que nunca? Já foi influenciado de uma forma ruim? Ao revelar a verdade? O texto a seguir foi extraído diretamente de entradas de um diário. As entradas foram escritas por um assassino notório, mas desconhecido. Ele é notório porque todos já viram seu trabalho. É desconhecido porque ninguém sabe que foi ele. Sua origem é incomum. Sem problemas, sem família maligna, sem forças mágicas ou paranormais. Sua vida foi escolhida por ele, e apenas por ele. Sua identidade também é desconhecida. A partir de agora, ele será chamado de Homem de Capuz.

3 de abril de 2004

Está muito frio por aqui. Não tenho nada para me cobrir. Tudo o que tenho são minhas camisetas e calças jeans. Então, hoje decidi comprar uma jaqueta. Fui a uma loja local, nada especial. É um moletom preto, com forro branco. Acho que fica bem legal, e quando experimentei, o atendente disse que combinava comigo. Agradeci por educação (cortesia é algo tão difícil de encontrar).

Então, comprei. Ainda não tirei o moletom. Não só é quente, mas eu realmente me vejo fazendo coisas incríveis com ele. Quando me olho no espelho, dou um sorrisinho. Me sinto incrível. Não consigo explicar direito, mas gosto disso. Gosto muito. Sinto vontade de levantar o capuz. Há algo no capuz que mascara uma pessoa. Mesmo mostrando o rosto, ele esconde algo… em algum lugar. Está bem tarde agora. Estive me sentindo tão bem o dia todo que o tempo voou ao meu redor. Vou explicar mais amanhã.

10 de abril de 2004

Tive uma semana infernal. Me senti tão bem. Andei pelos corredores como se fosse importante. Tenho certeza de que pareci arrogante. Foi por isso que o Braxton me desafiou. Ele estava muito bravo. Quem diria que ignorar um insulto era mais insultante do que responder com comentários mordazes sobre a família de alguém? Ele me provocou.

Ele pediu por isso. Ele deu um soco forte, e eu aguentei. Doeu mais do que quando eu discutia com ele. Me senti tão legal a semana toda. Minha confiança me manteve firme. Soquei ele com força no estômago e o levantei com um gancho. Foi tão bom… realmente foi… Os pais estão ligando.

14 de abril de 2004

O Braxton ainda não saiu do hospital. Disseram que ele está com muita dor. Cuspiu muito sangue. Os pais dele me contaram por telefone. Refleti sobre isso. Sobre como foi bom quando meu punho acertou… o som do grito dele quebrado…
“Que bom saber,” eu disse, sem expressão.

Não me importo com o Braxton. Sorri com a dor dele. Continuo olhando. Continuo olhando no espelho. Estou sempre usando meu moletom favorito. Ele me faz sentir tão… poderoso. Meus amigos ririam do que digo. Eles me comparariam ao Homem-Aranha e seu traje preto. O Homem-Aranha jogou seu poder fora. Não pretendo fazer nada com minha fonte de confiança.

22 de abril de 2004

“O Braxton foi para um lugar melhor.” As palavras ecoaram nos meus ouvidos.

Ele morreu. Perdeu muito sangue. O pai dele me disse no dia em que o visitei, que ele estava perdendo sangue por uma condição de saúde pessoal. Mas o olhar da mãe dele me contou a verdadeira história. Eu o matei. Ainda lembro da satisfação de acertá-lo. Nunca quis matá-lo. Preciso pensar no que fiz… certo? Isso vai consertar meus sentimentos. Mas o que há para pensar? Arrependimento é uma emoção tola. Não preciso de arrependimento.

24 de abril de 2004

Meu pai tem me evitado ultimamente, e minha mãe só me diz que me ama. Os dois querem que eu sinta uma culpa sem fim, mas eu não vou, ou melhor, não posso. Posso fingir para o público, mas a verdade é que não estou arrependido. A história do Homem-Aranha está me fazendo pensar mais. Mas por que um moletom “amaldiçoado” ou “possuído” cairia em minhas mãos? Todos que conheciam o Braxton me encaram.

Todos com quem eu falava se transferiram da minha turma ou foram para outra escola. Os professores não me olham muito ou não me repreendem se quebro alguma regra. Hoje, joguei um lápis no meu professor de história, acertou o ombro dele. Ele só ficou paralisado por um segundo e continuou o que estava fazendo. Todos ou me odeiam, e provavelmente querem que eu morra, ou têm medo de mim. Minha escrita é o único conforto que tenho. Posso ficar em paz e me libertar.

25 de abril de 2004

Eles me provocaram. Me ameaçaram. Não tive escolha. Eles teriam me matado. Meu capuz protegeu meu rosto. A faca passou naturalmente da mão do Mason para a minha. Não foi minha intenção (a escrita era uma linha curta neste ponto).

30 de abril de 2004

Cinco dias. Cinco dias sendo interrogado e dormindo numa cela. Decidiram que eu estava apenas me defendendo. Posso ouvir minha mãe e meu pai conversando. Eles querem que eu suma. Os dois estão com medo. Fui idiota de pensar que esse moletom estava me possuindo ou mudando minha personalidade. É só um moletom muito legal. Amo como ele fica em mim. Me sinto um cara durão.

Lembro de como levantei o capuz. Levantei quando o Braxton me desafiou. Levantei quando aqueles caras tentaram me matar. Não sinto remorso. Sinto indiferença. Estou no controle. Finalmente percebi a insanidade. Quis matá-los. Todos eles. Só precisava de um empurrão e da confiança para lutar. Eu consegui. Minha mãe e meu pai estão me irritando. Todos eles me irritaram.

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