segunda-feira, 23 de junho de 2025

A noite em que encontrei um círculo de sombras sentado em nosso quintal

Eu tinha cerca de 12 ou 13 anos quando isso aconteceu. Morávamos em uma pequena cidade na Bélgica, numa rua tranquila com casas de um lado e uma densa floresta plantada do outro. Não havia postes de luz em lugar nenhum, apenas escuridão total além da borda da estrada. A área mais densamente povoada ficava a cerca de uma hora de caminhada. À noite, a rua era completamente silenciosa — sem carros, sem pessoas, nada além do ocasional farfalhar das folhas.

Numa noite de verão, adormeci com o rádio tocando baixinho. Lembro que era um programa de entrevistas noturno, daqueles que ficam falando sem parar. Depois de acordar assustado algumas vezes, abaixei o volume, tentando abafar o som e conseguir um sono mais profundo. Foi quando comecei a ouvir... um sussurro suave vindo de fora. No início, pensei que fosse apenas o vento roçando as árvores ou talvez alguns animais se mexendo. Mas o sussurro não parava. Parecia um pequeno grupo de pessoas conversando, baixo, calmamente.

O mais estranho? Nosso quintal era cercado por um portão alto de metal e uma sebe espessa com arames entrelaçados. Não dava para entrar sem fazer barulho. Lembro de pensar: “De jeito nenhum tem alguém lá fora.”

Mas os sussurros continuavam.

Fui até o quarto dos meus pais; a janela deles tinha uma vista muito melhor do nosso quintal. Eu precisava ver o que estava acontecendo e se havia alguém lá. Para minha surpresa, vi algumas figuras, e meu coração gelou. Acordei meus pais em um leve pânico, tentando contar baixinho que havia pessoas no nosso quintal. Eles estavam grogues, mas, quando entenderam o que estava acontecendo, levantaram e olharam pela janela. Eles também os viram.

Lá, no quintal escuro como breu, estavam várias figuras sombrias. Elas estavam sentadas de pernas cruzadas, formando um círculo perfeito, bem ali na grama. Sem lanternas, sem celulares, sem luzes de nenhum tipo. Apenas um murmúrio tranquilo.

Lembro que o ar parecia mais pesado, como se algo estivesse pressionando. Minha pele arrepiava. A noite cheirava a terra úmida. Eu ouvia o canto lento e constante dos grilos misturado com suas vozes suaves. Era surreal.

O que realmente me marcou foi a calma deles.

Quando minha mãe acendeu a luz do quarto, a sala se encheu de uma luz amarela suave. Todos eles lentamente ergueram a cabeça e olharam diretamente para nós — sem piscar, sem se mexer, apenas olhos vazios e frios encarando a janela. Sem surpresa. Sem raiva. Sem medo. Apenas silêncio.

Meu coração batia tão forte que eu tinha certeza de que eles podiam ouvi-lo.

Então, sem dizer uma palavra, eles se levantaram, um por um. Era perturbador o quão deliberados e lentos eram seus movimentos, como se estivessem se movendo debaixo d’água.

Eles escalaram a sebe e não desceram a rua como seria esperado. Em vez disso, viraram-se para a floresta plantada do outro lado da estrada, desaparecendo na escuridão como sombras se dissolvendo.

Na manhã seguinte, meu pai inspecionou a sebe. O arame e os galhos estavam cuidadosamente dobrados para trás, não rasgados ou quebrados com violência. Como se quem fez isso tivesse tido cuidado para não deixar danos óbvios.

Ainda não sei quanto tempo eles estiveram lá antes de eu acordar. A coisa toda parecia um ritual secreto, algo escondido sob a normalidade tranquila da nossa vila. Todos se conheciam ali, e ninguém saía tão tarde.

Às vezes, penso naquelas figuras sentadas lá, silenciosas e observando. A forma como seus olhos não reagiam — isso ainda me assombra. Mesmo agora, anos depois, não consigo me livrar da sensação de que eles estavam esperando por algo. Ou por alguém.

Se você já passou por algo assim, gostaria de saber o que acha que foi. Porque, honestamente, ainda estou tentando entender.

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Escritor do gênero do Terror e Poeta, Autista de Suporte 2 e apaixonado por Pokémon