Eu sei como isso vai soar. Como as divagações de um louco privado de sono que assistiu a filmes de terror demais em uma cabana no meio da floresta. Mas isso aconteceu comigo.
Meu nome é Floyd. Tenho 28 anos, trabalho com TI, não tenho problemas de saúde mental nem histórico de alucinações ou delírios. Estava esgotado, sobrecarregado, mal pago e rastejando em direção a um colapso havia meses. Então, tirei uma semana de folga.
Reservei um Airbnb isolado nas montanhas, um lugar fora da rede, a duas horas da cidade. Sem vizinhos por quilômetros, apenas floresta, neve e silêncio. Na época, achei que era perfeito, exatamente o que eu queria, um momento para relaxar e me desconectar.
A cabana tinha um charme rústico, com um quarto, uma lareira e grandes janelas voltadas para a floresta. O anfitrião a chamava de “um refúgio tranquilo para a alma”. E, nas primeiras noites, realmente foi. Era honestamente muito pacífico.
Fiz as coisas típicas de quem está de férias: caminhei, remei, pesquei, sentei-me junto à lareira e li livros que trouxe comigo. Não tinha sinal de celular, o que, na época, não me incomodou, e, para ser honesto, parecia uma bênção. Bem, isso até a terceira noite, quando as coisas mudaram.
Estava deitado na cama, assistindo a vídeos no celular pouco depois da meia-noite, quando ouvi. Passos, não dentro, mas fora, esmagando lentamente a neve, circulando a cabana. No início, não dei muita importância, mas pareciam se aproximar. Sentei-me, o coração já disparado, apaguei a luminária ao lado da cama e escutei.
Os passos eram fracos, mas claros. Quem quer que fosse não caminhava em linha reta, mas como se estivesse circulando a cabana metodicamente, como se a estivesse inspecionando. Fiquei completamente imóvel, com medo de me mover, e então... parou. Por um momento, pensei que tinha acabado, que talvez fosse um animal ou minha imaginação. Foi quando ouvi as batidas.
Toc, toc, toc, na janela. Eu não sabia o que fazer. Definitivamente, não parecia galho ou arranhão; era deliberado, três batidas, uma pausa, depois mais três.
Olhei para a cortina, paralisado. A janela ficava a poucos metros da cama, de frente para a escuridão da floresta. Disse a mim mesmo para não olhar, mas todos os meus instintos gritavam para não fazer isso. Mesmo assim, olhei. Afastei a cortina, apenas uma fresta, e o que vi nunca esquecerei. Estava a centímetros do vidro, anormalmente alto, levemente curvado para olhar para dentro. Sua pele era esticada sobre o rosto, se é que tinha um rosto, pálida como cera velha, e seu sorriso era impossivelmente largo, fino e rachado, como se tivesse sido entalhado na pele com uma faca. E seus dentes... irregulares, quebrados, retorcidos como cacos de vidro cravados na gengiva.
Mas seus olhos eram a pior parte. Apenas dois pontos brancos brilhando em órbitas vazias. Não piscavam, não se moviam, mas me viam. Puxei a cortina de volta e tropecei para trás. Um segundo depois, ouvi-o caminhando até a porta da frente, muito mais rápido dessa vez, como se estivesse com pressa. Então, ouvi a porta da frente ranger ao abrir. Eu sei que a tranquei, com tranca e tudo, mas veio o som que ainda me faz arrepiar até hoje: respiração.
Pesada, irregular, úmida. Ecoava suavemente pela cabana, como se estivesse inalando o mesmo ar que eu respirava. E, por baixo disso, um arrastar. No início, não consegui identificar, mas então percebi: podia ouvir seus braços raspando nas tábuas do chão enquanto se movia. Longos, longos demais, como se tocassem o chão mesmo estando de pé.
Então, ouvi dedos arranhando a parede, unhas riscando deliberadamente enquanto passava. Não pensei. Corri para o quarto, bati a porta e me escondi no armário, fechando-me lá dentro. Fiquei sentado, mal respirando, segurando o celular contra o peito, sem saber o que fazer, inútil sem sinal. Não podia ligar para ninguém, me sentia completamente indefeso.
O chão rangeu do lado de fora do quarto. Estava no corredor agora. Ouvi-o se arrastando mais perto, os dedos dançando pela madeira, a respiração mais pesada. Então, por um momento, parou, bem do lado de fora da minha porta. Cobri a boca, tentando não fazer barulho, e então ouvi: “Floyd”. Disse meu nome. Mas a voz... não era uma voz. Eram dezenas, homens, mulheres e até crianças, todas sussurrando ao mesmo tempo, como um coro de estática. Como se não soubesse soar humano. A maçaneta girou lentamente, e então, silêncio.
Não me lembro de ter adormecido. Só de acordar horas depois, apertado e encharcado de suor. Era como se eu tivesse desmaiado. Quando voltei a mim, estava claro lá fora. Abri a porta do armário e entrei em um quarto silencioso e intocado. A porta da frente estava escancarada. Era tão estranho, nada foi roubado, nada foi quebrado. Era como se nada tivesse acontecido naquela noite. Será que foi tudo coisa da minha cabeça? Então, notei as cortinas: estavam abertas e rasgadas.
Muito assustado, saí naquela manhã. Nem tomei banho, apenas entrei no carro e dirigi direto para a cidade. Disse a mim mesmo que era estresse, isolamento ou apenas um pesadelo.
Mas aqui está a parte que nunca contei a ninguém. Moro no terceiro andar de um prédio de apartamentos. Tenho trancas duplas, vizinhos e câmeras de segurança. Mas, desde aquela noite, exatamente às 3:30 da manhã, ouço de novo.
Toc. Toc. Toc. Na minha janela.
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