sábado, 10 de maio de 2025

O homem com a cabeça virada ao contrário controla minha vida jogando uma moeda

Há apenas um ano, eu estava no fundo do poço. E não era como se eu tivesse caído até lá — não, eu me estabeleci firmemente naquele lugar, segurando uma garrafa de uísque, com um divórcio e uma demissão nas costas. Os papéis do divórcio estavam manchados de cinzas de cigarro e marcas de taças de vinho. Não restaram amigos do trabalho. Tudo o que eu tinha não valia nada. Eu bebia o dia inteiro — no café da manhã, no almoço e no jantar. Nem comia. Não me importava. Afundei em dívidas e em uma depressão absoluta. Muitas vezes, pensei em acabar com tudo. Pílulas, uma lâmina ou uma corda — eu só me perguntava qual seria mais rápido e fácil, mas nunca levei adiante.

O dia em que o pesadelo começou foi quando eu caminhava na chuva até a loja de bebidas, e algo terrível me encontrou no caminho. Era um panfleto simples, encharcado e colado a um poste como uma mariposa no vidro.

“Quer tentar a sorte?” Era tudo o que dizia, junto com um número de telefone.

Eu sorri com desdém, mas algo dentro de mim me impulsionou a ligar. Enquanto discava, dizia a mim mesmo que era só por diversão — mas, pensando bem, acho que eu realmente estava buscando qualquer tipo de ajuda. A ligação foi atendida no segundo toque. Sem voz. Nada. Apenas estática. Tentei falar, mas ninguém respondeu. Desliguei e ri amargamente.

Depois de gastar quase meus últimos reais em bebida, cambaleei para casa, joguei o casaco no chão e me perdi no bourbon. Pela manhã, bebia para lembrar. À noite, para esquecer.

E então aconteceu.

A porta do meu quarto rangeu ao abrir, com um gemido longo e assustador que fez meu coração despencar. Eu nunca a deixava aberta. Virei-me, e do quarto saiu algo — caminhando lentamente, batendo os calcanhares ritmicamente. Um homem, talvez com uns trinta anos, vestido como um cadáver do século XIX: fraque, colete com botões de cobre manchados, luvas de couro preto e um relógio de pulso dourado. Mas nada disso importava — porque sua cabeça... sua cabeça estava completamente virada ao contrário. Junto com seu rosto.

Sua pele era esticada e lisa, anormalmente retesada. O queixo estava onde deveria estar a testa. Olhos castanhos saltados me encaravam de órbitas invertidas, como bolinhas de gude, e seu sorriso torto revelava dentes amarelados. Cabelos imundos grudavam em seu pescoço. Ele jogava uma moeda de prata com uma mão, pegando-a com unhas cheias de sujeira. Eu gritei, me pressionando contra a parede. Meu corpo inteiro tremia de terror. Mal conseguia respirar.

“Você ligou,” ele sussurrou.

Sua boca mal se movia. Ele continuava jogando aquela maldita moeda a cada segundo. “Quem é você?” perguntei, engasgando de medo. “Um Jogador. Podemos jogar um jogo — um que mudará sua vida. Recompensas generosas... e perdas brutais.”

Não sei o que estava pensando. Talvez achasse que era uma alucinação de bêbado, talvez tivesse perdido a cabeça — mas concordei. E, meu Deus, como eu estava errado. Era real. Mas, na época, eu não tinha mais nada a perder. Foi quando ele explicou as regras.

“Cara, e você continua vivo — com a chance de vencer em jogos futuros e ganhar recompensas. Coroa... e eu tomo sua vida. Aqui e agora.”

Meus lábios se moveram antes que minha mente acompanhasse. Eu concordei. Ele jogou a moeda — e o tempo desacelerou. Vi a moeda girar, prateada como a lua. Cara. “Nos veremos novamente, vencedor.” Ele deu um leve sorriso e desapareceu no meu quarto. Quando corri para verificar, o quarto estava vazio. Meus joelhos cederam de medo e confusão. Mas isso era apenas o começo.

Os primeiros dias foram normais. Eu bebia e fumava da manhã à noite. No terceiro dia, não tinha mais dinheiro. Na manhã do quarto dia, estava em uma faixa de pedestres, com olhos vermelhos, encarando o semáforo vermelho. Foi quando ouvi — como uma facada nas costas.

“Cara — e você atravessará em segurança. Coroa — você morrerá atropelado.”

Meu coração congelou. Virei-me. Lá estava ele — sorrindo, girando a moeda entre os dedos. Implorei para que não fizesse isso, mas seu sorriso se alargou, revelando presas amareladas. Ele jogou a moeda.

Cara.

Atravessei. Na grama do outro lado, encontrei um envelope. Dentro: vinte mil reais. Desabei em lágrimas, depois em risadas. Não conseguia descrever a loucura que me atravessava — histeria, segurando aquele envelope com mãos trêmulas.

Paguei minhas dívidas. Limpei meu apartamento pela primeira vez em meses. Quase parei de beber. Como eu gostaria que tivesse terminado ali. Mas agora sei — aquele primeiro lançamento da moeda não era um jogo. Era um contrato.

Uma semana depois, eu escovava os dentes quando ouvi um estalo atrás de mim.

“Cara — seu dente racha. Coroa — sem cáries para se preocupar.”

Jogada de moeda. Cara.

Vi o dente se partir no espelho — a dor era cegante. Rastejei, sangrando, até o dentista. Depois disso, ele aparecia com mais frequência. Onde quer que eu fosse — elevador, carro, rua — lá estava ele. Jogando a moeda. Cada jogada moldava meu dia.

Escorreguei em público e quebrei o nariz. Encontrei carteiras cheias de dinheiro. Conheci mulheres deslumbrantes que pareciam programadas para cair na minha cama. Uma sequência de pequenas vitórias. Um desfile de pequenas perdas. Certa manhã, não acordei naturalmente — acordei com ele de pé sobre mim.

“Cara — o mercado de ações se curva diante de você. Coroa — você perde tudo.”

Cara. Fiz uma fortuna. Comprei a casa dos meus sonhos, um carro — vivi sem preocupações. Ele aparecia apenas para jogar a moeda. Eu continuava ganhando. Talvez a sorte estivesse comigo... ou talvez ele quisesse que eu ganhasse.

Numa outra jogada, consegui uma namorada. Depois, uma esposa. Sua risada era como sinos. Seus olhos — oceânicos.

“Cara — ela te dará filhos lindos. Coroa — ela morre enquanto dorme.”

Ele disse isso numa noite, parado ao lado da nossa cama.

Não consegui falar. Coroa.

Ela nunca acordou.

As apostas aumentaram. Ele se tornou constante. Quando não estava fisicamente presente, aparecia em poças, janelas, espelhos — sorrindo, jogando sua moeda. Eu virava — nada. Minha casa esvaziou. Eu deveria ter sofrido, mas acabara de vencer outro jogo — e perdi meu amor por ela.

Do contrário, teria afundado na depressão novamente.

O dinheiro entrava e saía. Então perdi — e descobri um câncer de pulmão. Ouvi-o rir enquanto eu cuspia sangue. Outra jogada: ambas as pernas quebraram com um estalo grotesco. Uma vitória me curou — o câncer sumiu. Outra derrota teria me dado demência.

Mesmo vencer parou de trazer alegria. Tudo o que eu sentia era medo — medo de ele voltar para jogar aquela moeda monstruosa novamente. As perdas começaram a superar as vitórias. Parei de me barbear — e se uma jogada dissesse que eu cortaria a garganta? Parei de tomar banho, parei de fazer qualquer coisa. Ele não se importava. Vinha mesmo assim.

Ele saiu do meu armário, a moeda de prata agora escurecida e manchada.

“Cara — você fica cego de um olho. Coroa — dos dois.”

Gritei, implorei para ele parar, disse que desistiria de tudo. Ele ouviu... e jogou.

Cara. Fiquei cego do olho esquerdo.

Antes da cirurgia ocular, deitado na maca, vi-o numa cadeira ao meu lado. Ele sussurrou:

“Cara — um erro cirúrgico tira sua audição. Coroa — você morre na mesa de operação.”

O terror me congelou. Chorei. “Isso não é justo,” sussurrei.

Ele jogou. Cara.

Estou meio cego. Completamente surdo. Meu coração dispara. O suor escorre constantemente. Não consigo dormir — quando durmo, ele está lá. Quando estou acordado, ele ainda está lá.

Ele não aparece mais em reflexos — apenas senta ao meu lado, imitando silenciosamente cada movimento meu. Um homem com a cabeça virada ao contrário, drenando minha vida a cada segundo. Não há palavras para descrever o horror de estar perto dele. Tentei atirar em mim mesmo — cara, a arma não disparou. Tentei me enforcar — cara, a corda arrebentou na hora.

Então ele sumiu por um dia inteiro.

Apenas para reaparecer ao amanhecer, sentado no parapeito da minha janela, com a cabeça grotescamente inclinada para cima, enfiando um dedo no peito. Com seu sangue, ele escreveu na minha parede:

“Amanhã, 7h — jogo final. Cara — você morre rápido, sem dor. Coroa — você gritará o mais alto que puder... até morrer.”

Implorei. Solucei. Gritei sem me ouvir. Com meu único olho funcional, vi-o sorrindo, saboreando, enquanto desaparecia novamente.

Estou digitando isso agora, olhando o relógio. São 6h53.

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