A estação estava deserta, vazia de um jeito que parecia errado. Os alto-falantes estavam mudos. As luzes no teto zumbiam monotonamente com lâmpadas fluorescentes. Foi quando notei, uma saída lateral que nunca tinha visto antes, escondida entre duas máquinas de venda. A placa acima dela estava em branco, mas a porta estava entreaberta, como se tivesse sido deixada para mim.
Além dela, havia mais da estação. Mas não exatamente.
As paredes eram revestidas com aqueles mesmos azulejos frios e divididos por cores: brancos na parte superior, azuis na inferior. Mas não havia placas, bancos ou trilhos, apenas uma série de corredores vazios. Eles se estendiam infinitamente, desprovidos de qualquer detalhe, silenciosos exceto pelo eco dos meus passos. E no fim de cada corredor, havia uma porta de madeira escura com uma barra de impacto. Ao passar por cada porta, abrindo-a para um novo corredor, eu sabia, de alguma forma, sem que me dissessem, que isso era um julgamento. Eu tinha que continuar andando. Se parasse, falharia. E se falhasse... ficaria preso.
Caminhei por pelo menos 30 minutos, descendo por um novo corredor, abrindo a porta e seguindo para o próximo.
Então, cheguei à sala com os patinhos.
Uma cesta de vime continha uma dúzia deles, fofos e macios, suas cabecinhas piscando para mim. Ao lado, havia uma mesa, e sobre ela, uma seringa cheia de um líquido preto e oleoso. Um cartão ao lado, rabiscado com uma caligrafia frenética, dizia: “Escolha um.”
Não quero contar o que fiz depois. Mas segui em frente. Precisei seguir.
Cheguei à próxima porta. Ao empurrá-la, as luzes começaram a piscar descontroladamente. O corredor à frente mudou para um azul profundo e frio. O ar parecia carregado de eletricidade. E quando cheguei ao fim do corredor e fui abrir a porta, uma mão grande bateu na porta à minha direita. Ao meu lado, me encarando profundamente, estava um homem.
Não, não era um homem. Algo alto, alto demais. Suas costas eram curvadas, o cabelo emaranhado e ralo, a barba crescida como vinhas retorcidas ao redor da boca. Seus olhos eram arregalados, saltados com uma fúria primal. Toda vez que eu tentava abrir a porta, ele me encarava com uma raiva pura, bloqueando o caminho e me olhando como se estivesse esperando por mim. Seus lábios se curvavam como os de um animal e, embora não dissesse nada, a mensagem era clara: “Não.”
Eu sabia, no fundo do coração, que se ficasse, morreria. Após alguns segundos tensos, percebi que precisava agir. Gritei, não para assustá-lo, mas para me encorajar.
Avancei, correndo para o novo corredor e rapidamente tentei empurrar a porta do outro lado para mantê-lo fora, mas ele a empurrou de volta. A pressão era insuportável, como empurrar contra uma avalanche. Mal houve um momento antes que ele irrompesse atrás de mim. Ele... isso... não se movia normalmente. Corria para trás em membros impossivelmente longos, contorcendo-se a cada passo desajeitado, como se a gravidade não se aplicasse a ele. Agora eu podia vê-lo mais claramente; tinha pelo menos quatro metros e meio de altura. Não gritava. Não falava. Apenas perseguia.
Corri com toda a força que consegui reunir e passei por outra porta no fim do corredor, fechando-a com todo o pânico que me restava.
Agora, estava silencioso. Não houve batida na porta que acabei de deixar.
O novo corredor era claro.
Esse novo espaço era diferente. As luzes piscantes e as paredes de azulejo haviam desaparecido. O novo corredor era estéril, de um branco ofuscante. O chão brilhava sob as luzes fluorescentes. Tudo parecia mais limpo, mais quieto, mais como um hospital vazio do que uma estação.
E logo à frente, a porta final. Eu sabia disso intuitivamente.
Corri em direção a ela, a esperança crescendo em meu peito, até que algo entrou no corredor pela porta que eu havia fechado momentos antes.
Outra figura alta. Mais larga. Inchada. Era toda branca, com um colarinho de palhaço franzido. Seu rosto era pintado como o de um palhaço, mas os traços estavam errados. Não havia boca. Apenas manchas de maquiagem preta e um par de olhos laranjas ardentes. Seu corpo era disforme, ou morbidamente obeso ou vestindo algum tipo de traje inflado, mas se movia com uma velocidade impossível. A cada passo, ficava mais perto, crescendo e ocupando mais espaço no corredor.
Não olhei para trás.
Joguei-me pela porta final.
Acho que consegui escapar.
Mas às vezes, quando passo pela estação de trem, vejo um lampejo. Uma sombra. Algo alto. Algo observando.
E me pergunto se o julgamento realmente terminou.
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