sexta-feira, 2 de maio de 2025

Os Nerds Roxos

A primeira vez que isso aconteceu foi há pouco mais de uma década e meia, eu tinha 8 anos na época. Era por volta do Halloween, talvez alguns dias depois (clichê, eu sei, mas aguente firme).

Naquela noite, depois que adormeci, acordei no meio da madrugada precisando usar o banheiro. Após atravessar o corredor até o banheiro, levantei a tampa do vaso sanitário e encontrei uma caixinha de balas Nerds roxas flutuando na água, com seu conteúdo espalhado no fundo do vaso. Era uma coisa estranha de se encontrar àquela hora, mas atribuí a culpa à minha irmã mais nova, que poderia ter jogado suas balas de Halloween ali. De qualquer forma, eu estava prestes a fazer o que precisava quando, sem nenhum aviso, ouvi um batido violento na janela. Era tão alto e repentino que me fez pular, quase me sujando ali mesmo. Virei a cabeça rapidamente na direção da única janela do banheiro, e ouvi novamente, alto e insistente: toc toc toc toc toc toc. Eu estava apavorado, mas, por algum motivo que não consigo explicar, em vez de correr para chamar meus pais, algo me compeliu a abrir as cortinas e ver quem — ou o que — estava do outro lado, tão desesperado para chamar minha atenção. Afastei as cortinas, e o que vi foi um horror indizível, dizer que era um monstro seria um insulto ao que habita as profundezas do inferno.

Com aparência humanoide, não tinha nada de humano. Sua pele era cinza-escura, se é que se pode chamar aquilo de pele; parecia feita de fumaça, com partes se desprendendo e evaporando no nada. Muitos buracos negros de tamanhos variados cobriam seu rosto e corpo. Sem cabelo, orelhas ou nariz, apenas olhos e uma boca em uma cabeça de formato humano. Seus olhos eram, talvez, o mais perturbador, porque pareciam muito humanos, exceto pelo fato de brilharem num branco fluorescente. Era impossível distinguir onde começavam ou terminavam suas outras feições, a menos que eu o visse pelo canto do olho, como se meu cérebro não conseguisse processar o que estava ali, mesmo que quisesse, e eu fosse forçado a preencher as lacunas.

Eu não conseguia me mover, não conseguia gritar, e digamos que não precisei mais usar o banheiro. O que veio depois foi ele abrindo sua boca sem dentes, sua mandíbula reta e boca achatada fazendo-o parecer quase um boneco retorcido. Dentro, havia apenas um vazio negro. O som que saiu depois, nunca esquecerei enquanto viver: era como um sussurro gritado, com um tipo de eco ressonante, como sinos de vento cósmicos. Fosse o que fosse aquele som, ele me puxava. Os olhos da coisa me encaravam como faróis de um carro enquanto eu era lentamente arrastado para mais perto de sua boca, um vazio aberto. Não importava o quanto eu lutasse ou tentasse gritar, era inútil. Lentamente, ele me puxava, mais e mais perto, até que acordei.

Queria poder dizer que esse foi o fim, que foi apenas um pesadelo louco inventado pela imaginação criativa de uma mente adolescente. Eu não sabia na hora, enquanto estava ali, frio e úbido em meu pijama sujo, paralisado por um medo profundo, mas essa não seria minha última visita daquele monstro. Foi só quando minha mãe entrou para me acordar que encontrei forças para me mover. Contei brevemente sobre meu pesadelo, e ela me confortou como qualquer mãe faria, trocando os lençóis e trazendo roupas limpas para eu vestir após o banho.

Quando cheguei ao banheiro para tomar banho, minha atenção foi imediatamente atraída para a janela, que agora deixava entrar um raio brilhante de sol matinal. Não pude evitar repensar como o pesadelo tinha sido tão vívido: o papel de parede amarelo-claro, os padrões florais nas cortinas brancas... Mesmo sendo dia, eu mantive a maior distância possível daquela janela. O banho foi agradável, quase suficiente para me fazer esquecer completamente o pesadelo. Mas, logo após sair e me trocar, meu estômago despencou como uma bigorna. Lá, claro como o dia, flutuando no vaso sanitário, estava uma caixinha de Nerds roxos.

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Escritor do gênero do Terror e Poeta, Autista de Suporte 2 e apaixonado por Pokémon