quarta-feira, 14 de maio de 2025

Eu peguei um homem em uma estrada remota, dentro de um túnel que simplesmente não terminava. O que ele me disse lá dentro ainda me gela até os ossos

Eu dirijo bastante por causa do trabalho, às vezes até tarde da noite. Geralmente, é tranquilo — só eu, a estrada e o podcast que estiver tocando. Naquela noite específica, eu estava em uma rodovia estadual menos movimentada, cortando caminho pelo interior para ganhar tempo. Meu GPS me desviou por causa de um acidente na estrada principal, e a nova rota me levou por um terreno bem isolado, cheio de colinas. Já passava da meia-noite, talvez umas duas da manhã. Era aquele tipo de escuridão onde as árvores dos dois lados da estrada parecem figuras encurvadas, e os faróis do carro são a única prova de que o mundo ainda existe.

Vi uma placa indicando um túnel cerca de um quilômetro antes de chegar a ele. Não havia nome específico, apenas um aviso padrão. Túneis à noite sempre têm um clima meio assustador, não é? Este parecia antigo, um arco simples escavado em uma enorme laje de rocha, provavelmente construído há décadas. Era do tipo com aquelas luzes amareladas e fracas no teto, que lançavam sombras longas e tremeluzentes. Ao me aproximar, percebi que ele era mais longo do que eu imaginava, desaparecendo na escuridão da colina.

Diminuí a velocidade ao entrar, o ronco dos pneus mudando de tom ao tocar o concreto do túnel. O ar ficou mais frio, mais úmido. Meu rádio, que tocava uma estação indie tranquila, começou a chiar e depois virou estática. Irritante, mas comum em túneis. Estendi a mão para desligá-lo, mergulhando o carro em um silêncio relativo, interrompido apenas pelo ronco do motor e pelo som rítmico das luzes passando acima, tum-tum, tum-tum.

Eu estava talvez a um quarto do caminho — é difícil calcular distâncias nesses lugares — quando o vi.

Uma figura, de pé na estreita passarela do lado direito do túnel. Apenas parada ali, de costas para mim, olhando para a parede do túnel. Meu coração deu um salto. Você não espera encontrar pedestres em um túnel remoto às duas da manhã. Meu primeiro pensamento foi que o carro dele tinha quebrado.

Reduzi a velocidade, meu carro desacelerando. Ao me aproximar, ele se virou, e vi seu rosto na luz fraca e intermitente. Era um homem mais velho, talvez no fim dos cinquenta, início dos sessenta. Parecia cansado, um pouco desleixado. Vestia uma jaqueta simples e jeans. Não segurava uma placa, não fazia sinal de carona, apenas… estava ali. Mas, quando meus faróis o iluminaram completamente, ele levantou a mão, não em um aceno desesperado, mas em um gesto lento, quase hesitante.

O bom senso gritava para eu continuar dirigindo. Tarde da noite, túnel remoto, estranho solitário. É a receita para uma história ruim. Mas ele parecia… mais perdido do que perigoso. E havia uma parte de mim, aquela que espera que alguém parasse para me ajudar se eu estivesse em apuros, que me fez desacelerar ainda mais. Parei ao lado dele, baixando a janela do passageiro. O ar úmido e frio do túnel, com um leve cheiro de pedra molhada e fumaça de escapamento, entrou no carro.

"Tá tudo bem?" perguntei, tentando manter a voz firme.

Ele se inclinou um pouco, olhando para dentro. Seu rosto era marcado, com olhos cansados. "Nossa, graças a Deus", disse ele, com a voz um pouco rouca. "Meu carro… simplesmente parou. Lá atrás. Completamente morto."

"Dentro do túnel?" perguntei, olhando pelo retrovisor. A entrada era um arco pálido e distante, mas eu não tinha visto nenhum veículo quebrado. Sem luzes de emergência, nada.

Ele balançou a cabeça. "Não, logo antes. Ele… meio que saiu da estrada e caiu numa vala bem na entrada. O motor parou, as luzes, tudo. Num momento eu estava dirigindo, no outro, lutando com o volante para não bater na rocha. Provavelmente não dá pra ver da estrada, ficou escondido na vala." Ele apontou vagamente para trás, em direção à entrada do túnel. "Carro idiota. Pensei que minha melhor chance era atravessar a pé. Tem um posto de gasolina 24 horas do outro lado da colina, a uns três quilômetros da saída, segundo a última placa que vi."

A explicação parecia plausível. Um carro caindo numa vala no escuro, especialmente se perdeu potência, poderia não ser facilmente visível. E ele não parecia ameaçador. Apenas um cara com azar.

"Entra aí", disse eu, destrancando a porta do passageiro. "Posso te levar até o posto."

"Nossa, muito obrigado", disse ele, com uma onda de alívio no rosto. "Você é um anjo. De verdade." Ele abriu a porta e se acomodou no banco do passageiro, trazendo uma rajada daquele ar úmido do túnel. Ele tinha um leve cheiro de terra molhada e algo mais, algo que eu não conseguia identificar… um odor metálico, acobreado, bem fraco. Ignorei, pensando que provavelmente era da vala ou do carro velho dele.

"Sem problema", respondi, afastando-me da lateral e acelerando suavemente. "Lugar horrível pra ficar parado."

"É verdade", ele suspirou, esfregando as mãos como se estivesse com frio, embora não estivesse particularmente gelado. "Num minuto tá tudo bem, no outro… bom. Só agradeço por você ter aparecido."

Dirigimos em silêncio por um ou dois minutos. As luzes do túnel continuavam seu flash rítmico acima de nós. Olhei para o painel. Tudo normal. Eu ficava esperando ver o arco brilhante da saída à frente, mas o túnel… simplesmente continuava. Era um túnel longo, com certeza. Tentei lembrar da placa, se ela indicava o comprimento. Acho que não.

"Que túnel, hein?", comentei, mais para quebrar o silêncio.

"É, não é?", disse ele, com a voz baixa. Ele olhava fixamente para a frente, para o tubo aparentemente infinito de concreto e luz fraca. "É bem comprido."

Mais alguns minutos se passaram. Comecei a sentir um nó de inquietação no estômago. Lá longe, no horizonte, eu via o que parecia ser a luz mais clara do mundo exterior, indicando a saída. Mas ela não estava ficando mais perto. Não de verdade. Eu estava dirigindo a uns 65 km/h, o limite indicado. Já devíamos ter saído há muito tempo.

Bati os dedos no volante. "Tem certeza de que o posto não fica muito longe da saída? Esse túnel parece não acabar nunca." Tentei rir, mas o som saiu vazio, até para mim.

O homem não virou a cabeça. "Falta pouco agora", disse, com a voz ainda suave, quase monótona. "Devíamos ver a saída a qualquer momento."

Mas não vimos. O pontinho de luz que eu achava ser a saída continuava teimosamente distante, como uma estrela que você vê, mas nunca alcança. Verifiquei o odômetro. Já tínhamos percorrido quase cinco quilômetros desde que o peguei. Esse túnel não podia ser tão longo, podia? Não ali, no meio do nada. Um túnel assim seria uma façanha de engenharia, algo que as pessoas conheceriam.

Minha inquietação crescia, enrolando-se no meu estômago como uma cobra fria. Olhei para o GPS. A tela estava congelada no ponto onde entrei no túnel, o ícone do carro parado, o mapa ao redor sem resposta. "O GPS tá fora do ar", murmurei. "Ótimo."

"Eles nunca funcionam bem nesses lugares profundos", disse o homem. Sua voz era calma. Calma demais.

Arrisquei um olhar rápido para ele. Ele ainda encarava a frente, sua expressão indecifrável na luz fraca e pulsante. Aquele leve cheiro acobreado que notei antes parecia mais forte agora, ou talvez fosse minha imaginação.

"Realmente parece que não estamos chegando mais perto da saída", disse eu, com a voz um pouco mais tensa. "Olha." Apontei para a frente. "Tá assim há quilômetros."

Ele finalmente virou a cabeça para me olhar. Seus olhos, na penumbra tremeluzente, pareciam mais escuros que antes, e havia algo neles… uma quietude profundamente perturbadora. "Paciência", disse ele, com a voz grave. "Túneis podem enganar. Vamos sair logo. Muito em breve."

A tranquilidade dele não me acalmou. Pelo contrário, só piorou. Havia uma mudança sutil no tom, algo que não estava certo. Uma qualidade estranha, quase hipnótica, que parecia predatória.

Então, outra coisa aconteceu. Olhei pelo retrovisor, um hábito quando me sinto inquieto. As luzes do túnel atrás de nós, que se estendiam até a entrada que eu não via mais, estavam… diferentes. Uma delas, a uns cem metros atrás, piscou e apagou, mergulhando aquela parte do túnel em uma sombra mais profunda. Então, um momento depois, a próxima mais próxima fez o mesmo. E a seguinte.

Uma onda de pavor gelado me invadiu. A escuridão estava se aproximando, engolindo as luzes uma a uma. Era como se o próprio túnel estivesse sendo apagado atrás de nós, e a escuridão avançava, nos perseguindo.

"Você viu isso?" perguntei, minha voz quase um sussurro. "As luzes… estão apagando atrás de nós."

O homem não olhou para trás. Ele manteve os olhos em mim. "A escuridão vem por todos nós, eventualmente", disse ele, e dessa vez não havia como confundir a estranheza em sua voz. Era mais profunda, ressonante, com uma certeza aterrorizante.

Meu coração batia forte contra as costelas. Isso não estava certo. Não era uma pane, não era um túnel longo. Era outra coisa. Algo terrível. O ar dentro do carro parecia pesado, opressivo. Aquele cheiro acobreado estava definitivamente mais forte, e me deixava nauseado.

Pisei no acelerador, o motor gemendo enquanto o carro ganhava velocidade. 80, 90, 100 km/h. As paredes do túnel viraram um borrão de concreto. As luzes acima passavam mais rápido, tum-tum-tum, mas o pontinho de saída permanecia teimosamente, impossivelmente distante.

"O que tá acontecendo?" exigi, com a voz trêmula. "Por que esse túnel não acaba?"

O homem ficou em silêncio por um momento. Então, disse, bem baixo: "Talvez ele não queira que a gente saia."

Arrisquei outro olhar no retrovisor. A escuridão estava mais perto. Muito mais perto. A última luz visível atrás de nós estava a uns quinze metros, e as anteriores haviam sumido, engolidas por uma escuridão impenetrável que parecia pulsar, quase respirar. Senti um medo primal, uma necessidade desesperada de escapar daquele vazio que avançava. Ele parecia… faminto.

"Você precisa desacelerar", disse o homem, com um tom de comando agora, perturbadoramente calmo. "Não precisa correr."

"Não precisa correr?" quase gritei. "Aquela escuridão tá nos alcançando! A gente precisa sair daqui!"

"A escuridão não é algo a ser temido", disse ele, inclinando a cabeça ligeiramente. "É pacífica. É o fim da luta." Ele fez uma pausa, e sua voz ficou ainda mais baixa, quase uma carícia. "Você deveria parar o carro. Só… encostar. Deixe ela te pegar. Renda-se a ela. É muito mais fácil se você simplesmente ceder."

Enquanto ele falava, uma exaustão profunda me invadiu. Minhas pálpebras ficaram incrivelmente pesadas. O volante parecia pesar uma tonelada. A ideia de simplesmente parar, de fechar os olhos e deixar o que quer que estivesse acontecendo acontecer, era de repente, esmagadoramente atraente. Paz. Sim, paz parecia bom. O medo começou a recuar, substituído por uma letargia estranha e convidativa. Meu pé aliviou o acelerador.

O carro começou a desacelerar. A escuridão que avançava no retrovisor parecia crescer, me acolher.

Mas então, um instinto diferente, algo cru e primal enterrado no fundo de mim, gritou. Perigo! Acorde! Não ouse! Foi como um choque de água gelada. Meus olhos se abriram completamente. A sonolência sumiu, substituída por uma onda de adrenalina tão forte que me fez engasgar.

Isso não era paz. Era… absorção.

Pisei no freio com força. Os pneus gritaram em protesto, o carro derrapando um pouco antes de parar com um solavanco. O homem foi jogado contra o cinto de segurança, soltando um pequeno grunhido. A escuridão atrás de nós estava agora assustadoramente perto, uma parede sólida de nada a poucos metros do para-choque traseiro, parecendo se contorcer e ferver.

Minha mão tateou o porta-luvas. Sempre carrego minha pistola de autodefesa licenciada ali em viagens longas por lugares desconhecidos. Meus dedos se fecharam ao redor do cabo de metal frio.

"O que você tá fazendo?" perguntou o homem, sua voz não mais suave, mas cortante, com um tom frio e irritado.

Puxei a arma, minha mão tremendo violentamente, mas meu aperto firme. Desliguei a trava de segurança e apontei para ele. "Sai", rosnei, com a voz rouca. "Sai do meu carro. Agora!"

Por uma fração de segundo, ele apenas me encarou, depois olhou para a arma. A luz pulsante do túnel iluminou seu rosto, e eu vi ele se transformar. As linhas cansadas pareceram se aprofundar, se contorcer. Seus olhos… Meu Deus, seus olhos. Não eram humanos. Eram poços de escuridão absoluta, sem reflexo de luz, apenas uma inteligência antiga e maligna. E então, ele sorriu. Não era um sorriso humano. Era largo demais, predatório demais, cheio de uma alegria profana. O cheiro acobreado agora era avassalador, espesso e enjoativo, como sangue velho.

"Você não pode escapar, sabe", sibilou ele, com uma voz seca e áspera que arranhava minha sanidade. "Ela te provou agora. Conhece seu cheiro."

"Sai!" gritei, meu dedo apertando o gatilho.

O sorriso se alargou, se é que isso era possível. Com uma graça fluida e perturbadora, ele abriu a porta do carro. Não parecia nem um pouco incomodado com a arma. "Muito bem", disse ele, saindo para a penumbra opressiva do túnel. Ficou ali por um momento, emoldurado pela porta aberta, com a parede de escuridão absoluta a poucos metros atrás dele, parecendo envolvê-lo como um manto acolhedor.

"Este túnel pode te deixar ir por agora", ele sussurrou, com os olhos escuros fixos nos meus. "Mas todo túnel que você entrar, toda sombra que você cruzar… ela estará esperando. Ela tem seu cheiro. Vai te encontrar de novo. Você não pode fugir da sua própria escuridão."

Então, ele se virou e, sem olhar para trás, caminhou calmamente em direção à escuridão que o perseguia. Deu um passo, dois, e no terceiro, simplesmente… dissolveu-se nela. Como fumaça. Num momento ele estava lá, uma silhueta escura contra um vazio ainda mais escuro, e no próximo, sumiu. Engolido.

Não esperei. Joguei a marcha em drive, meu pé esmagando o acelerador até o chão. Os pneus giraram por um segundo aterrorizante no concreto escorregadio antes de pegarem tração, e o carro disparou para a frente, afastando-se daquele lugar. Não olhei no retrovisor. Não podia. Apenas dirigi, meus olhos fixos naquele pontinho de luz impossivelmente distante, rezando, barganhando com qualquer deus que pudesse estar ouvindo.

O motor gritava. As luzes do túnel eram um borrão estroboscópico e nauseante. Não sei a que velocidade eu estava. Só sabia que precisava sair. A escuridão, eu podia senti-la, mesmo sem olhar. Ainda estava lá, atrás de mim, talvez ainda ganhando terreno.

E então, de repente, impossivelmente, o pontinho de luz à frente se expandiu rapidamente. Cresceu, clareou, transformou-se na abertura arqueada distinta da saída do túnel, com a luz pálida do céu antes do amanhecer ao fundo.

Saí do túnel e entrei no ar fresco e puro do mundo exterior como uma rolha saindo de uma garrafa. Eu estava ofegante, soluçando, meu corpo inteiro tremendo incontrolavelmente. Não diminuí. Continuei acelerando, colocando o máximo de distância possível entre mim e aquele buraco amaldiçoado na terra.

Dirigi pelo que pareceu uma eternidade, embora provavelmente tenham sido apenas dez ou quinze minutos, até ver o brilho abençoado e fluorescente de uma placa de posto de gasolina 24 horas. Parei com os pneus cantando e coloquei o carro em ponto morto. Quase caí do banco do motorista, minhas pernas moles como gelatina. Estava coberto de suor frio, hiperventilando.

O atendente, um garoto com cara de sono, apenas me encarou de trás do balcão enquanto eu entrava tropeçando, provavelmente parecendo que tinha visto uma legião de fantasmas. Comprei uma garrafa d’água, minhas mãos tremendo tanto que mal consegui abri-la. Não disse nada sobre o que aconteceu. O que eu poderia dizer? Quem acreditaria em mim?

Eventualmente, voltei para o carro, tranquei todas as portas e fiquei lá sentado até o sol nascer, com a arma no banco do passageiro ao meu lado. Nunca vi nenhum sinal do carro do homem, nenhuma vala, nada. A estrada que levava ao túnel, e a que saía dele, era apenas uma estrada rural comum e vazia.

Já se passaram alguns dias. Não consegui passar por nenhum túnel desde então, nem mesmo os curtos em plena luz do dia. Toda vez que me aproximo de um, sinto esse pavor gelado, essa certeza de que ela está esperando. As palavras dele ecoam na minha cabeça: "Ela tem seu cheiro. Vai te encontrar de novo."

Não sei o que era aquela coisa no túnel. Não sei o que era a escuridão. Mas parecia antiga, e parecia maligna. E sei, com uma certeza que me gela até os ossos, que isso não acabou.

1 comentários:

Anônimo disse...

O conto é eficiente naquilo a que se propõe: provocar inquietação e mexer com o medo primal do leitor. Ele se destaca pelo ritmo, pela ambientação e pelo uso de elementos clássicos do horror adaptados a uma narrativa contemporânea. É o tipo de história que permanece na mente, especialmente para quem já sentiu o desconforto de atravessar um túnel deserto à noite - e, após a leitura, talvez pense duas vezes antes de fazê-lo novamente. Gostei muito

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