terça-feira, 13 de maio de 2025

Floresta dos Açougueiros

Eu fazia parte de um grupo de escalada que queria conquistar uma falésia conhecida por ser desafiadora até para os escaladores mais experientes. Estávamos equipados, e o clima era animado. Metade da viagem foi feita em um ônibus alugado, e a outra metade, trekking por uma paisagem incrível. Tudo na viagem estava correndo bem, e o grupo se entrosava perfeitamente. Queríamos escalar, simples assim. O tempo estava calmo, e diziam que era a melhor época do ano para a escalada. Em qualquer outro momento, seríamos derrubados por ventos fortes ou soterrados pela neve.

A parede rochosa que pretendíamos escalar ficava perto de uma das cachoeiras mais longas da região, que não estava registrada nos mapas porque não era constante durante o ano todo. No inverno, a água congelava, e apenas um fio escorria pelas rochas. Chegamos ao local, montamos acampamento e começamos a verificar nossos equipamentos. Sou um escalador experiente, então meu material já vem checado antes de sair, mas ainda assim verifico tudo de novo no local, por precaução. Tudo estava em ordem, exceto por alguns pinos e cordas faltando, mas estávamos preparados para imprevistos como esses.

A líder, Andréa, disse que passaríamos um dia no chão para garantir que tudo estivesse contabilizado e que a escalada fosse feita em condições secas. A cachoeira era um espetáculo à parte, com água cristalina. Tirei várias fotos para minhas redes sociais e também da área ao redor. Gostei muito do lugar e pensei em voltar se a escalada desse certo. A face da rocha era lisa e difícil de mapear de onde estávamos. Andréa e seu parceiro comentaram que era incomum ver uma superfície tão uniforme. Na noite antes da escalada, o inferno começou. Éramos 12 no grupo, e eu fui o único a escapar.

Algo nos observava, e eu não era o único a perceber. Outros, como Catarina, também mencionaram isso. Tentamos ignorar, atribuindo à ansiedade ou nervosismo, e eu acabei deixando pra lá. Naquela noite, estava na minha barraca quando ouvi algo andando ao redor. Parecia uma pessoa muito grande caminhando e observando o acampamento. Não chamei, fiquei em silêncio, esperando que fosse algum dos outros escaladores pregando uma peça para assustar. O som dos passos diminuiu, como se a pessoa tivesse se afastado. Preparei-me para um susto, mas nada aconteceu.

Espiei fora da barraca e vi que o acampamento estava completamente silencioso; todos pareciam dormir ou estar se preparando para isso. Comecei a sentir que havia algo lá fora e decidi verificar. Saí da barraca e caminhei pelo perímetro do acampamento com minha lanterna, mas não encontrei nada. Sentindo-me culpado por me assustar tão facilmente, voltei para a barraca e me deitei. Talvez uma hora depois, ouvi o primeiro grito e o som de tecido sendo rasgado. Acordei tentando entender o que estava acontecendo. Gritos e berros vinham das outras barracas. Tentei sair para ver, mas ouvi risadas e sons de algo sendo martelado. Ao olhar pela abertura da barraca, não consegui distinguir o que acontecia, então acendi a lanterna e apontei para a direção dos sons.

O que vi me marcou profundamente. Dois homens enormes seguravam uma das mulheres do grupo. Um segurava os braços, o outro, as pernas, e a estavam puxando. Com um estalo e um som de rasgo doentio, a partiram ao meio. Minha mão voou para a boca, abafando um grito, e deixei a lanterna cair. Saí da barraca e corri para uma árvore. Queria subir e me esconder daquele massacre. Outro homem espancava uma barraca com um tronco, sem piedade. Eles estavam tão ocupados que não me notaram, mas eu sabia que teria o mesmo destino. Tentei sobreviver, e me odiei por não tentar proteger meus amigos. Algumas barracas estavam vazias, o que me deu um leve alívio ao pensar que outros poderiam ter fugido.

Enquanto subia na árvore, ouvi mais gritos, mas vinham da floresta. Percebi que poderia haver mais dessas pessoas. Que diabos estava acontecendo? O guia turístico disse que aquele era um santuário protegido. Ninguém mencionou esses habitantes da floresta. Do alto da árvore, vi um dos homens olhando para minha barraca. Ele, ou aquilo, estava me procurando.

O medo de ser encontrado me manteve grudado à árvore, completamente quieto e imóvel. A criatura caminhava entre as barracas, procurando mais membros do grupo. Minha lanterna iluminava outra figura, que se agachava para rasgar os restos da mulher e comer a carne. Tinha forma humana, mas a cabeça era maior, o corpo mais musculoso, e os pelos mais grossos. Parecia um macaco, mas com formato mais humano. A cabeça era desproporcional, com a coroa alongada. O rosto tinha traços humanos, mas os olhos eram fundos. O ar fedia a podridão, como um pântano que visitei uma vez, uma mistura de vegetação morta, carne podre e excrementos.

Observei a criatura mais próxima da minha árvore. Ela olhava ao redor e cheirava o ar de tempos em tempos. Chegou mais perto, mas ouviu algo na floresta e correu para lá. A outra, que destruía uma barraca, a rasgou e começou a mexer nos pedaços, examinando-os. Encontrou algo que quis e começou a morder. Minha respiração estava curta, e meu aperto no tronco era tão forte que precisei afrouxá-lo para respirar melhor. Sentia náuseas, e o cheiro revirava meu estômago. Tentei não fazer barulho enquanto o massacre continuava. Perguntava-me como fui ignorado e agradecia por estar vivo até então.

Ouvi algo se aproximar da minha árvore por trás. Era outra dessas criaturas, segurando algo. Para meu horror, era a metade superior de outro membro do grupo, rasgado ao meio como a mulher. Parou sob a árvore, cheirou o ar, e temi ser o próximo. Por sorte, baixou a cabeça e seguiu para o acampamento, jogando os restos para a criatura que comia a mulher. Sentou-se e começou a comer também, arrancando pedaços de carne e mordendo.

A adrenalina cedeu, e eu estava perdendo a consciência. O cansaço tomava conta, e eu lutava para ficar acordado. Tentei não me mover até que as criaturas fossem embora, mas sabia que logo adormeceria e talvez caísse do esconderijo. Um uivo alto me acordou, e as criaturas ficaram alertas, olhando ao redor. Pegaram o que podiam e fugiram do acampamento. Pensei que fossem lobos pelo som, mas poderia ser um sinal delas para partir. Esperei mais, mas o sono inevitável chegou, e logo adormeci.

Acordei com a luz do dia, ainda agarrado ao tronco. Olhei para o acampamento e vi o carnage da noite anterior. Esperei um tempo antes de descer e constatei a extensão do massacre. Era uma carnificina profana. Os corpos da mulher e do homem rasgados sumiram, deixando apenas vísceras. Verifiquei a barraca espancada e vi o corpo mutilado do ocupante, irreconhecível. Virei-me e corri. Não me importei com nada, apenas corri para o escritório do santuário ou outros acampamentos. Só pensava em sobreviver.

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Escritor do gênero do Terror e Poeta, Autista de Suporte 2 e apaixonado por Pokémon