Eu sei como parece. E sei como provavelmente pareço estúpida por não ter expulsado ele de casa ainda. Mas, por favor, me escute.
O Travis tem um coração enorme. Esse foi um dos principais motivos pelos quais comecei a namorar ele. Ele sempre coloca as necessidades dos outros acima das dele. Por isso, quando a Sophie, a garota que mora sozinha na casa ao lado, pediu ajuda para consertar uma torneira com vazamento, não fiquei surpresa quando o Travis imediatamente se ofereceu para ajudar. Ele é encanador, então, no início, não achei isso estranho.
Mas então ela começou a pedir mais. Precisava de ajuda para cortar a grama, desentupir o ralo, limpar as calhas. Droga, ela até pediu para ele ajudar a pintar as paredes outro dia. Foi isso que levou à nossa primeira discussão em meses.
“Tá, eu sei que parece ruim, mas estou só ajudando ela com algumas coisas na casa! Amor, eu nunca faria nada com a Sophie. Você sabe disso.”
Apertei os punhos e rangei os dentes. O Travis percebeu que tinha pisado na bola. “Eu sei disso? Travis, eu não sei de mais nada. Ultimamente, você tem passado mais tempo com essa garota nojenta do que com a sua própria esposa. Não faço ideia no que acreditar agora.”
“Não fala dela assim. A Sophie não é uma vadia, e ela não tentaria dormir comigo. Ela é uma garota de vinte anos morando sozinha numa casa grande. Os pais dela morreram, e ela não tem mais ninguém para pedir ajuda. Eu tenho trinta e cinco, Lizzy. Ela é praticamente uma criança.”
Desviei o olhar, sentindo uma súbita pontada de culpa. Eu não sabia que os pais da Sophie tinham falecido.
“Bem, mesmo que seja esse o caso, ainda não me sinto confortável com você passando tanto tempo lá sozinho com ela. Isso me faz sentir… indesejada,” disse, com lágrimas se formando nos meus olhos.
O Travis suspirou, esfregando a nuca. “Desculpa-me. Não quis te fazer sentir assim. Vou começar a dizer pra Sophie que ela vai ter que encontrar outra pessoa pra cuidar dessas coisas. Pensando bem, acho que você tem razão. Ela está ficando dependente demais de mim.”
Enxuguei os olhos, satisfeita com a resposta dele.
É aqui que acaba, né? Essa é a parte em que eu digo orgulhosamente que o Travis nunca mais foi à casa daquela garota, não é? Infelizmente, não posso dizer isso.
Eu o peguei indo pra lá no dia seguinte. O carro do Travis estava estacionado na entrada depois do horário normal de trabalho, mas meu marido não estava em lugar nenhum — o que só podia significar uma coisa.
Fiquei tão furiosa que joguei um vaso contra a parede como se fosse o Peyton Manning lançando uma bola de futebol americano para um receptor. Naquele momento, não me importei com a bagunça. Eu só sabia que o Travis estava me traindo, e eu estava determinada a provar.
Fui pisando duro até a casa da Sophie, pronta para dar uma bronca nos dois. Levantei o punho para bater na porta, mas algo me fez parar.
A porta já estava entreaberta.
Isso só me deixou ainda mais furiosa. Eles estavam tão ansiosos para começar que nem fecharam a porta direito.
Empurrei a porta, entrando sem ser convidada. Sim, eu estava invadindo, mas não me importava. Se a Sophie não me queria na casa dela, não deveria estar se envolvendo com meu marido.
Eu estava vendo tudo vermelho, pronta para esbofetear os dois, quando parei, franzindo a testa. A sala de estar era tão… estranha. Não tinha nenhum móvel. Sem televisão. Sem sofás. Sem poltronas. Nada. Apenas uma sala vazia.
Meu estômago começou a revirar e, de repente, eu não estava mais tão brava. “Tr-Travis?” chamei, minha voz fraca e trêmula. Comecei a caminhar em direção ao que supus ser o quarto, pronta para repreender meu marido e sair dali o mais rápido possível. Mas então eu ouvi.
Uma música estranha vinha de um dos quartos dos fundos. Um tipo de cântico rítmico esquisito.
Meu coração batia forte contra o peito. Eu não sabia no que estava prestes a me meter. Tudo parecia errado.
Me aproximei da porta e encostei o ouvido, escutando atentamente. Fui recebida por uma mistura confusa de música, sons úmidos e murmúrios. Não conseguia distinguir nada. Tudo parecia embaralhado.
Minha respiração ficou presa na garganta enquanto eu segurava a maçaneta. Eu precisava fazer isso. Precisava saber o que estava acontecendo entre aqueles dois.
O que vi quando espiei pela fresta daquela porta vai me assombrar pelo resto da vida.
A Sophie e o Travis estavam de costas para mim enquanto um alto-falante tocava algum tipo de cântico gregoriano. As mãos deles estavam manchadas de vermelho, pintando pentagramas e uma variedade de símbolos que eu não reconhecia nas paredes. E eles não estavam usando tinta de lata.
No centro do quarto, vazando vermelho sobre uma lona plástica, estava a metade inferior de um cadáver humano. Eu assisti, paralisada de horror, enquanto a Sophie murmurava algo, traçando um dos símbolos. Meu coração despencou quando vi o Travis se virar para o cadáver, enfiar as mãos dentro e sorrir para a cor vermelho-escura escorrendo pelos braços. Os olhos dele… eram completamente pretos. Como se algo sinistro estivesse usando a pele dele.
Foi isso que me tirou do transe. Não me importava se eles me ouvissem. Minha única preocupação era sair dali viva.
Corri para fora daquela casa o mais rápido que minhas pernas permitiram. Peguei minhas chaves, pulei no carro e acelerei para fora do bairro em velocidade relâmpago.
E isso me traz até onde estou agora. Parei na casa dos meus pais, e já chamei a polícia, mas ainda não tive notícias deles.
No entanto, recebi notícias do Travis. A mensagem que ele me enviou me deixou aterrorizada pela minha vida.
“Eu sei que você nos viu. Espero que tenha gostado, querida. Estamos quase sem tinta, mas não se preocupe. Sei onde encontrar mais.”
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