O último dezembro mudou isso.
Eu tinha acabado de sair de um plantão longo — sou enfermeiro, e os turnos noturnos podem ser completamente mortos ou absolutamente insanos. Aquela noite foi do segundo tipo. Eu estava exausto, tanto mental quanto fisicamente. Quando finalmente cheguei em casa, por volta das 3h30 da manhã, tudo o que eu queria era um chá e silêncio. Meu apartamento fica no segundo andar de um duplex antigo, logo fora da cidade. É um lugar tranquilo, com moradores mais velhos e pouca atividade à noite.
Um dos meus hábitos é deixar as persianas abertas na sala de estar. A janela grande dá para a rua, e há um poste de luz à moda antiga bem em frente que emite um brilho laranja opaco. Isso faz o lugar parecer quente, acolhedor — mesmo quando estou sozinho.
Naquela noite, enquanto eu estava no sofá tomando chá, olhei pela janela.
Foi quando notei.
Do outro lado da rua, há uma casa vitoriana antiga. Um lugar bonito, mas que está vazio há meses. Os antigos donos se mudaram depois que um cano estourou e destruiu a maior parte do térreo. Desde então, a casa ficou lá — silenciosa, escura, sem vida.
Mas naquela noite, havia uma luz acesa.
Não era uma luz forte, mais como um brilho tremeluzente. Luz de vela. É a única maneira de descrever. Parecia fraca e instável, quase como fogo. Me aproximei da janela, franzindo a testa. Foi quando o vi.
Havia um homem parado na janela do andar de cima daquela casa.
Ele não se movia. Estava lá, imóvel como uma estátua, voltado na minha direção. Não consegui ver seu rosto claramente — apenas o contorno de uma figura alta e magra, vestida com roupas escuras. A princípio, pensei que fosse um manequim ou um truque da luz. Mas então ele se moveu.
Ele se inclinou para frente.
Lentamente. De propósito. Como se estivesse tentando me ver melhor.
Senti um frio na barriga. Algo naquela cena parecia errado — não apenas assustador, mas ameaçador. Já vi comportamentos estranhos o suficiente para saber quando algo está muito fora do normal, e aquilo estava profundamente errado.
E então… ele sumiu.
Num piscar de olhos, a figura desapareceu. Sem movimento, sem desvanecer. Estava lá num segundo, e no próximo, não estava mais. A luz também se apagou, como se alguém tivesse soprado uma vela.
Fiquei olhando para a janela vazia por um tempo. Tentei racionalizar. Talvez fosse um invasor. Talvez crianças entraram com uma lanterna. Talvez eu estivesse tão cansado que imaginei tudo.
Quase me convenci — até que me virei para pegar meu chá novamente.
Foi quando notei um movimento no reflexo da minha própria janela.
Foi rápido. Um borrão atrás de mim.
Virei-me imediatamente, com o coração disparado.
Não havia ninguém.
Fiquei parado no meio da sala, com as luzes acesas, o silêncio pesado ao meu redor. Verifiquei o banheiro, a cozinha, o corredor. Portas trancadas. Nada fora do lugar.
Mas então olhei de volta para a janela.
E foi quando as vi.
Duas marcas de mãos. Manchas fracas e oleosas. Pressionadas contra o lado de fora do vidro.
Segundo andar. Sem varanda. Sem escada de incêndio. Sem árvores perto da janela. Apenas duas marcas de mãos, como se alguém tivesse se inclinado… me observando.
Não dormi aquela noite. Fiquei no sofá, com as luzes acesas, encarando a janela até o sol nascer.
Na manhã seguinte, liguei para o proprietário, disse que tinha uma emergência familiar e perguntei se podia quebrar o contrato de aluguel. Nem dei uma explicação completa. Só precisava sair.
Mudei-me duas semanas depois. Não voltei àquela rua desde então. Ainda não sei quem ou o que vi naquela janela — ou como aquelas marcas de mãos apareceram ali.
Tudo o que sei é o seguinte: nunca mais deixo as persianas abertas à noite. E se você algum dia vir algo te observando de uma janela… não olhe de volta.
Porque, às vezes, ele olha de volta com mais intensidade.
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