Embora o bosque fosse carente de habitantes, certamente não faltavam visitantes. Na verdade, muitas pessoas o frequentavam, assim como eu. Estranhos sorriam e acenavam nas trilhas estreitas que serpenteavam por entre as árvores densamente agrupadas. De todos os lugares, foi lá que conheci minha namorada, Mary. Desde aquele dia de início de primavera, nosso relacionamento floresceu como a própria floresta.
O outono era a época em que mais gostávamos de passear por lá. À medida que a luz diminuía e o frio voltava, as folhagens se tornavam de um dourado vibrante, iluminando o bosque de dentro para fora. Caminhar de mãos dadas enquanto as folhas caíam preguiçosamente ao nosso redor parecia a definição de felicidade, se é que tal coisa existe.
Foi Mary quem notou uma marca estranha em uma árvore numa tarde fria, numa área desconhecida. Letras tortuosas, gravadas na casca, mal eram legíveis:
**NÃO SIGA O LAMENTO. CUIDADO COM AQUELE QUE ESPREITA.**
Queríamos mostrar aquela árvore aos nossos amigos para assustá-los, mas todas as tentativas de encontrá-la novamente foram em vão. Era estranho e rendia uma boa história, mas não demos muita importância.
Algumas semanas depois, ouvimos o lamento nós mesmos, baixo e irregular, mas claro no ar. Isso foi em nossa última caminhada. Lembro da minha pele arrepiada e do olhar atônito de Mary.
“Precisamos descobrir o que é,” ela insistiu, apesar da minha hesitação.
Como idiotas sem noção, tentamos rastrear o som, enquanto nos embrenhávamos cada vez mais no matagal. Localizar a origem foi demorado, mas eventualmente o lamento começou a ficar mais alto. Lentamente, chegamos a uma clareira que eu nunca tinha visto, parando na sua borda.
À nossa frente, havia dois pés que faziam os nossos parecerem peças de Lego. Eles apontavam em nossa direção, e o que quer que fosse dono deles era muito mais alto que as copas das árvores. Ao olhar para cima, através do dossel cada vez mais ralo que mal nos protegia, consegui distinguir algo que, de certa forma, parecia um homem gigante e sem pelos, completamente nu na clareira.
Ele não nos viu, seus olhos pequenos fitavam vagamente o horizonte. Suas mãos pendiam frouxamente das extremidades de braços esguios, suspensas perto do chão, roçando a grama alta abaixo.
Meu coração disparou, e a mão de Mary apertou a minha com força.
O lamento era insuportável. Repugnante. Agudo e entremeado com uma mistura de estalos, chupadas e um triturar horrível. Quando estreitei os olhos, vi sua mandíbula se movendo de um lado para o outro, e um par de pernas humanas nuas pendendo de sua boca. Linhas brilhantes escorriam por elas, convergindo nos dedos dos pés em gotas viscosas que pingavam de forma inquietantemente lenta.
Mas a mão de Mary não tinha apertado a minha. Essa era a versão dos fatos que eu preferia.
Porque ela não parou quando eu parei.
Porque ela não o viu até que saiu saltitando alegremente para o meio da clareira, me desafiando a acompanhá-la.
Acho que nunca esquecerei o brilho nos olhos daquela abominação quando a notou ali, com seu olhar atônito. Nem espero pelo dia em que não serei atormentado por seu sorriso gigante enquanto se inclinava para arrancá-la de mim, muito menos por aquele lamento incessante enquanto eu via as pernas vermelhas de Mary se contorcendo esporadicamente de um lado para o outro.
Aaaaaaaaaaaarrrrrhhhg.. Uuughh!!! AAAAAAHMMMMMMMMMmmmmm...
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