quinta-feira, 8 de maio de 2025

As Florestas Sem Fim

A floresta se estendia à minha frente como um mar de sombras, as árvores agrupadas tão densamente que seus galhos pareciam se agarrar uns aos outros. Eu observava o caminho — se é que podia chamá-lo assim —, uma trilha fina de terra serpenteando entre troncos mais velhos do que qualquer coisa que eu já vira. O ar estava parado, carregado com o cheiro de terra úmida e musgo. Respirei fundo, deixando o frio da manhã se instalar em meus ossos antes de dar o primeiro passo.

Vim buscar solidão, um refúgio do barulho da cidade, do horizonte manchado de poluição, do borrão interminável de rostos que nunca significaram nada. Disse a mim mesmo que seria bom, que eu precisava de tempo para pensar. Mas, à medida que avançava mais fundo na floresta, a sensação de calma que eu esperava começou a se desfazer, desfiando-se a cada passo.

O primeiro quilômetro, mais ou menos, foi fácil. As árvores eram familiares, bordos e carvalhos, suas folhas sussurrando na brisa leve. A luz do sol atravessava as brechas no dossel, salpicando o chão com padrões mutantes. Eu parava ocasionalmente para olhar para trás, vislumbrando a entrada da trilha, o carro estacionado logo além, brilhando prateado ao sol. Um lembrete do mundo que deixei para trás, mesmo que apenas por alguns dias.

Mas logo o caminho se estreitou, suas bordas embaçadas por arbustos crescidos e trepadeiras rastejantes. Hesitei, olhando para trás mais uma vez. O carro havia sumido de vista, engolido pelas dobras da paisagem. Por um momento, pensei em voltar — só por um momento. Mas então ri, afastando a inquietação que arranhava meu peito. Eu lia muitas histórias de fantasmas quando criança. Era só isso.

A trilha ficou mais irregular, raízes entrelaçando-se no solo como dedos esqueléticos, rochas projetando-se em ângulos estranhos. Eu seguia com cuidado, os olhos procurando por marcadores ou sinais de trilha. Não via nenhum desde que começara, mas isso não era incomum. Algumas dessas trilhas antigas eram quase abandonadas.

O sol subiu mais alto, sua luz filtrando-se pelo dossel em fios finos. Olhei meu relógio: onze minutos após o meio-dia. Eu deveria estar chegando à clareira agora, um pequeno pedaço de terreno aberto que vi no mapa. Mas as árvores só ficavam mais densas, o caminho serpenteando em curvas imprevisíveis.

Parei e escutei. A floresta estava silenciosa. Sem pássaros, sem o farfalhar de esquilos na vegetação rasteira, nem mesmo o zumbido de insetos. Apenas silêncio. Minha respiração soava áspera em meus próprios ouvidos, um lembrete de quão longe eu tinha ido. Peguei meu celular e olhei a tela. Sem sinal, claro. Não ali.

Virei-me para o caminho por onde vim, esperando ver as curvas e desvios familiares, mas a trilha estava diferente. Desviava para a esquerda onde eu tinha certeza de que era reto antes. Hesitei, encarando a nova linha de árvores que emoldurava o caminho. Será que eu vim mesmo por ali?

Uma pontada de inquietação surgiu, mas a empurrei para longe. Devo ter me confundido. Era fácil se perder ali. Retomei meus passos, agora mais rápido, mais seguro a cada passada. Observava as árvores, procurando marcas familiares — qualquer coisa para me orientar. Mas não havia nada.

Parei, o coração batendo um pouco mais forte do que deveria. Eu estava sozinho. Completamente sozinho. Respirei fundo, forçando minha mente a se acalmar. Estava tudo bem. Só precisava retroceder mais. Virei-me novamente, mas o caminho tinha sumido. Onde ele estava, havia apenas vegetação rasteira e árvores imponentes, seus galhos se esticando uns para os outros como braços ossudos.

Avancei, empurrando a folhagem. Tinha que haver uma trilha ali. Eu a percorri. Eu a vi. Minhas mãos afastavam galhos, as folhas roçando minha pele como sussurros. Mas não havia nada. Nenhuma trilha. Só mais árvores.

Parei e olhei ao redor. O sol ainda estava no alto, mas sua luz parecia abafada, distante. Respirei novamente, mais devagar dessa vez, e disse a mim mesmo para manter a calma. Pânico não ajudaria. Nunca ajudava. Só precisava me orientar.

Girei lentamente, marcando a direção onde o sol estava, e comecei a andar em linha reta. Se continuasse em uma direção, acabaria encontrando uma estrada, ou pelo menos a borda da floresta. Era assim que funcionava.

Caminhei pelo que pareceram horas. As árvores ficavam mais densas, seus troncos retorcidos e nodosos, raízes espalhando-se pelo chão como veias. Meus passos ficavam mais pesados, o silêncio pressionando meus ouvidos até parecer que eu estava submerso. Olhei meu relógio. Três e meia. Estava caminhando por quase quatro horas.

Parei. O pânico era mais difícil de afastar agora, subindo pela minha garganta a cada respiração. Olhei ao redor. Nada além de árvores. Linhas intermináveis e ininterruptas de árvores. Meu coração batia contra as costelas, minhas mãos tremiam enquanto procurava meu celular. Levantei-o, encarando a tela. Ainda sem sinal. A bateria estava em sessenta por cento.

Engoli em seco, forçando minha respiração a desacelerar. Estava apenas perdido. Só isso. Me confundi, talvez tenha saído da trilha, mas a encontraria novamente. Tinha que encontrar.

Mas quando me virei, o caminho que eu havia percorrido também sumiu. Não apenas coberto — sumido. Como se nunca tivesse existido. A vegetação estava intacta, as folhas imperturbadas. Dei um passo para trás, e depois outro. Minha mente girava, buscando lógica, razão, mas nada vinha.

Eu estava sozinho, no meio da floresta, e não tinha ideia de como sair.

Minha respiração acelerou, minha visão embaçando nas bordas enquanto eu lutava para manter a calma. Forcei minhas pernas a se moverem, tropeçando para a frente através da vegetação. Escolhi uma direção e caminhei. E caminhei.

As horas se misturaram. O sol afundava, sombras se esticando como dedos pelo chão. Eu continuava, a exaustão roendo meus ossos, minha garganta áspera de sede. Tentei beber de um riacho que encontrei, a água clara e gelada, mas isso só me fez sentir ainda mais sozinho.

Quando o sol finalmente mergulhou no horizonte, a escuridão veio rápida e total. Me encolhi sob o tronco de um carvalho enorme, suas raízes me envolvendo como costelas. A noite era mais fria do que eu esperava, e eu tremia sob minha jaqueta fina. Escutava, esperando que os sons da floresta despertassem — o coaxar de sapos, o farfalhar de folhas, o uivo distante de algum predador noturno.

Mas havia apenas silêncio. Um silêncio tão completo que pressionava meus ouvidos, preenchendo o espaço onde o som deveria estar. Não dormi.

Quando a aurora chegou, cinzenta e fraca, levantei-me com as pernas rígidas e continuei. Meu corpo doía, meus pés em carne viva de tanto caminhar. Olhei meu relógio. Sete e meia. Meu celular estava com trinta por cento. Ainda sem sinal.

Segui pelas árvores, ignorando os sussurros de pânico que arranhavam meus pensamentos. Só precisava continuar andando. Era o que importava. Se continuasse, encontraria a borda. Tinha que encontrar.

Mas as árvores não terminavam.

Elas se estendiam, entrelaçando-se e se contorcendo umas nas outras, a trilha há muito esquecida. Parei de contar as horas, meus passos se fundindo em um borrão de movimento. Bebia dos riachos quando os encontrava, comia frutas silvestres que manchavam meus dedos de vermelho. Sabia dos perigos, dos riscos de veneno, mas a fome roía meu estômago com dentes afiados.

Dias passaram. Ou talvez fossem apenas horas. A luz mal mudava, o sol pairando logo além das árvores, nunca alcançando o chão. Meu relógio morreu. Meu celular logo o seguiu. Parei de me preocupar com a direção. Só caminhava.

As árvores ficavam mais estranhas à medida que eu avançava, suas cascas lisas e pálidas, seus galhos nus apesar da estação. Folhas forravam o chão, grossas e úmidas, abafando meus passos até parecer que eu estava em um sonho.

Tentei gritar uma vez, para romper o silêncio. Minha voz cortou o ar, áspera e irregular, mas as árvores a engoliram por completo. O som morreu, deixando apenas o vazio.

E eu continuei caminhando.

A floresta não me deixava ir.

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