Sou um entusiasta de eletrônicos retrô e, um dia, consegui uma TV de tubo antiga vintage em um brechó por causa da sua vibe retrô. Ela tem botões para mudar de canal e um zumbido suave quando está ligada. Eu a deixava funcionando ao fundo enquanto trabalhava de casa, geralmente sintonizada em algum canal morto cheio de estática. O ruído branco me ajudava a focar. Esse foi meu primeiro erro.
Há cerca de um mês, comecei a notar algo na estática. Não era óbvio no início — apenas um lampejo, como se a neve na tela estivesse se movendo de um jeito que não deveria. Eu percebia pelo canto do olho enquanto digitava, uma ondulação sutil que fazia a estática parecer… organizada. Como se estivesse tentando formar uma forma. Eu virava para olhar, e sumia, só ruído aleatório de novo. Pensei que era minha imaginação, ou talvez a TV estivesse com defeito. Tecnologia antiga, né? Tinha que pifar algum dia.
Mas continuou acontecendo. Toda noite, por volta de 1 ou 2 da manhã, a estática mudava. Comecei a observar de propósito, encarando a tela, tentando capturar o momento em que mudava. E então, numa noite, vi claramente. A neve se abriu, por apenas um segundo, e havia um padrão — espirais dentro de espirais, girando para dentro como um túnel. Não estava só na tela. Parecia estar atrás da tela, como se eu estivesse olhando por uma janela para algo imenso. Minha cabeça latejava, e meus ouvidos zumbiam com um ronco baixo que não vinha da TV. Pisquei, e a estática voltou, chiando como se nada tivesse acontecido.
Desliguei a TV naquela noite, disse a mim mesmo que era só o cansaço, que estava tarde. Mas não consegui dormir. O padrão estava gravado na minha mente, aquelas espirais infinitas girando no escuro atrás das minhas pálpebras. No dia seguinte, tentei trabalhar, mas não parava de olhar para a TV, silenciosa no canto. Juro que podia ouvi-la zumbir, mesmo desconectada. Ao anoitecer, não aguentei mais. Liguei-a de volta, sintonizei no canal morto.
O padrão estava lá imediatamente. Sem lampejo, sem hesitação. A estática girava em espirais, mais apertadas e profundas que antes, puxando meus olhos para o centro. O zumbido estava mais alto agora, vibrando no meu peito, e senti uma pressão no crânio, como se algo estivesse comprimindo meus pensamentos. Não conseguia desviar o olhar. As espirais se moviam, não como um vídeo, mas como algo vivo, enrolando e desenrolando num espaço que não era aqui. E então ouvi — um sussurro, não em palavras, mas na minha mente. Não estava falando comigo. Estava falando através de mim, como se eu fosse um receptor para outra coisa.
Não sei quanto tempo fiquei ali. Horas, talvez. Quando finalmente desviei os olhos, meu nariz estava sangrando, e meu laptop estava aberto num documento em branco cheio de linhas de números que não lembrava de ter digitado. Não eram aleatórios — cada linha era uma sequência, repetindo e dobrando sobre si mesma, como um código que eu não conseguia decifrar, mas sentia que deveria entender. A TV ainda estava ligada, o padrão pulsando, e juro que estava me observando. Não a tela, mas o que quer que estivesse atrás dela.
Quebrei a TV na manhã seguinte. Peguei um martelo, estilhacei o vidro, arranquei os tubos. O apartamento fedia a ozônio e poeira, mas o zumbido não parou. Estava na minha cabeça agora, constante, como uma batida cardíaca que eu não podia escapar. O padrão me seguia também. Eu o via no grão do piso de madeira, na textura das paredes, no jeito que a luz piscava pelas persianas. Estava em todo lugar, escondido à vista, e toda vez que o via, aquele sussurro voltava, mais alto, mais claro. Não eram palavras, mas era uma pergunta. Não “quem é você?” ou “o que você quer?”, mas algo mais profundo, algo que fazia minha pele arrepiar e meus pensamentos se desfazerem. Estava perguntando o que eu era, como se não acreditasse que eu pertencia aqui.
Pare de sair de casa. O padrão estava lá fora também — nas nuvens, nas rachaduras da calçada, nos reflexos nas janelas dos carros. Comecei a vê-lo nos rostos das pessoas, os olhos delas girando para dentro quando me olhavam por tempo demais. Meu vizinho bateu na minha porta um dia, perguntou se eu estava bem. Não consegui responder. A voz dele soava como o zumbido, e seu sorriso estava errado, como se ele agora fizesse parte disso. Bati a porta e não a abri desde então.
Estou escrevendo isso no celular porque a tela do meu laptop começou a mostrar o padrão também, mesmo desligado. A bateria está acabando, e estou com medo de carregar. O zumbido está tão alto agora que abafa todo o resto, e os sussurros são constantes, sobrepondo-se, como um coro de coisas que não são humanas. Não durmo mais. Quando tento, sonho com um lugar que não é um lugar — um vazio onde o padrão é tudo, se estendendo para sempre, e algo se move nele. Não é um corpo, não é uma forma, mas uma mente. É antiga, mais antiga que qualquer coisa, e é curiosa. Está me desfazendo, camada por camada, para ver o que há dentro.
Encontrei um espelho no meu banheiro ontem. Não me lembro de ter um. Quando olhei, meu reflexo não estava certo. Meus olhos eram espirais, minha pele era estática, e minha boca se movia sem mim, sussurrando números. Quebrei o espelho, mas os cacos ainda mostram o padrão, brilhando no escuro.
Não sei o que isso quer. Não acho que queira algo, não como nós queremos. É só… está ciente de mim agora, e isso basta. Sinto isso me reescrevendo, transformando meus pensamentos nos pensamentos dele, minhas memórias nas memórias dele. Não sei quanto de mim sobrou. Se você está lendo isso, não procure o padrão. Não encare a estática, não observe as sombras por muito tempo, não escute o zumbido. Não é aleatório. É um sinal, e está esperando alguém notar.
Vou postar isso e depois — meu Deus, não sei. O zumbido está muito alto agora. O padrão está nas minhas mãos enquanto digito, nas palavras na tela, no ar que estou respirando. Está aqui. Sempre esteve aqui.
Desculpe-me.
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